[PSL-Brasil] Um projeto livre (e brasileiro) para o cinema (inclusive com câmera opensource)

Ronaldo Lages * ASL.Org rclages em softwarelivre.org
Segunda Novembro 26 15:36:42 BRST 2012


Um projeto livre para o
cinema<http://blogs.estadao.com.br/link/um-projeto-livre-para-o-cinema/>

Link original e fotos:
http://blogs.estadao.com.br/link/um-projeto-livre-para-o-cinema/

Por Murilo Roncolato

*Curta-metragem incorpora o espírito do software livre à própria produção,
usando até uma câmera ‘open source’*

*Flávio Soares teve o corpo da câmera emprestado por um ano para realizar o
projeto. Foto: EPITÁCIO PESSOA/ESTADÃO *

SÃO PAULO – O paulistano Flávio Soares, de 32 anos, queria gravar um
curta-metragem usando software livre. Estudando formas mais baratas e menos
problemáticas de fazer um filme para o cinema, ele se deparou com a Elphel,
uma câmera desenvolvida pelo físico russo Andrey Filippov, conhecida por
ter toda a sua documentação aberta. Os softwares internos estão disponíveis
na internet sob licença GNU GPL (General Public License), o tipo mais comum
para designar criações que podem ser copiadas e alteradas sem pagamento de
royalties.
Quando a Elphel entrou em cena, o curta-metragem Floresta Vermelha passou a
ser coadjuvante na história pioneira de criar um filme narrativo usando não
apenas uma câmera aberta, mas também softwares de edição livres e um site
de crowdfunding para obter recursos para a empreitada. “As pessoas
começaram a se oferecer para ajudar no projeto só porque achavam legal”,
conta Flávio, que também é o diretor do curta-metragem.

Para viabilizar o projeto, o brasileiro pediu uma das câmeras emprestadas à
fabricante. A Elphel estranhou, já que não havia desenhado seus aparelhos
para o cinema, mas sim para projetos científicos (o Google usa câmeras
Elphel nos carros do Street View e para escanear livros para o serviço
Books).

Flávio colocou as mãos na câmera em abril com a condição de que
documentasse suas experiências e devolvesse tudo em janeiro de 2013. A
câmera não tinha tecla Rec, nem lente. Era uma caixa preta com entrada para
um cabo que deve ser ligado a um computador, que controla tudo. “É quase
como gravar um filme analógico no digital, mas pior, porque a gente não vê
o que está fazendo.”

O diretor do curta adaptou uma lente para a câmera que, somada ao fato de
estar sempre ligada a um computador, acabou moldando também o roteiro.
“Tive de criar um roteiro basicamente de cenas internas para não ter de
ficar andando com esse monte de fio por aí.”

O curta conta a história de um jovem chamado Nikolai, que volta para a casa
dos pais em uma pequena vila onde a floresta adquire um brilho vermelho
quando escurece. Lá, reencontra a mãe e a irmã, que aguardam o pai retornar
do trabalho.
*Escolhas.* Flávio se tornou um entusiasta de software livre após montar
uma rádio web na universidade, onde cursou jornalismo. Fez, então,
documentários sobre maracatu e vídeos experimentais em desfiles de moda.
Hoje, está prestes a receber um certificado em gestão de sustentabilidade
pela Fundação Getúlio Vargas. Para ele, todo seu currículo faz sentido. “É
como aquela história do Steve Jobs sobre os pontos que vão se ligando
durante a vida.”

Um dos pontos que levou Soares a optar pela câmera Elphel foi que, além do
baixo custo quando comparada com outras câmeras profissionais, ela gravava
em formato RAW, que preserva todas as informações e camadas das cenas
captadas, o que dá grande liberdade para os processos de edição e
pós-produção. Ele passou um ano e meio estudando, pela internet, como faria
para tudo funcionar.

“Muito do que eu sei veio do aprendizado que tive que buscar por
necessidade. A gente perde tempo, mas vale a pena.” O estudo rendeu um
artigo técnico, o único disponível na rede, sobre como usar a câmera aberta
para cinema digital.

*Financiamento.* Para sair do papel, foi decidido que o projeto seria
bancado por mecenato colaborativo, o chamado crowdfunding. O Floresta
Vermelha entrou para o site Catarse com o pedido de R$ 6.500 para ajudar a
custear os gastos com o curta. O valor foi atingido na quinta-feira, com
doações de 92 pessoas que, entre outras coisas, receberão convites para a
festa de lançamento do curta no dia 30, em um espaço no bairro da Lapa, em
São Paulo. Durante a exibição do filme, haverá também uma apresentação da
banda responsável pela trilha sonora.

“Pensamos em tentar o dinheiro através de edital, mas tinha certeza que (os
avaliadores) não entenderiam o projeto. Por isso buscamos um sistema
alternativo”, diz Soares.

O projeto se ligou a uma organização criada na Europa chamada Apertus, que
tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento do cinema livre no
mundo. Flávio se aproximou do grupo e, graças ao Floresta Vermelha, chamou
a atenção e foi eleito para o conselho executivo.

A Apertus se originou a partir da utilização das câmeras livres
norte-americanas, mas se apressou em dar início ao desenvolvimento de uma
própria, chamada Axiom, com resolução melhor, de 4k (4096 × 2160) – o dobro
do modelo mais recente da Elphel –, e própria para o cinema.

O anúncio provocou ansiedade nos membros desse mercado, que já vislumbram
que haverá investimento mais pesado no desenvolvimento aberto e
colaborativo de plataformas (software e hardware) no futuro.
“Essa revolução pode começar com a Axiom”, escreveu o cineasta austríaco
Tobis Deml, em no artigo “Hollywood precisa de uma câmera de código
aberto?”. “Se a Axiom obtiver sucesso em seu desenvolvimento, causará um
impacto tão grande na indústria do cinema, de maneira que outros
fabricantes seguirão seu exemplo para não correrem o risco de ficar para
trás”, diz Deml.

Uma câmera livre não significa que necessariamente qualquer um vai poder
criar uma máquina na garagem de casa. Segundo Flávio, o processo é bem
diferente, por exemplo, de uma placa Arduino, que permite gerenciar
qualquer tipo de dispositivo, de uma impressora 3D a um sistema de
irrigação.

“Câmeras são mais complexas e ainda há partes delas, como alguns sensores,
que são de tecnologia fechada. Mas o software que lê o sensor já é livre”,
explica Deml. Segundo Soares, a importância da documentação técnica da
câmera ser aberta e disponível na internet é que, assim, outras pessoas
podem adquirir aquele conhecimento específico e criar coisas ainda mais
avançadas. Para ele, é assim que a indústria deve se desenvolver.

“O legal do código aberto é que permite que outras pessoas façam e melhorem
as coisas, e só dá para fazer porque as ferramentas estão aí. É só usar.”
—-
*
Paz, Vida Longa e Prospere!

Ronaldo Cardozo Lages
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Técnico em Telecomunicações (CREA-SC)
Porto Alegre, Rio Grande do Sul - Brasil
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1999 Idealizador do FISL [http://www.fisl.org.br/]
2003 Fundador da ASL.Org [http://www.asl.org.br/]
2009 Organizador do SoLiSC [http://www.solisc.org.br/]
2010 Técnico em Telecomunicações [http://www.ifsc.edu.br]
2011 Coordenador de TI do Palácio Piratini [http://www.rs.gov.br]
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