[PSL-Brasil] Fabianne x Anahuac: OSI x SL

Alexandre Oliva lxoliva em fsfla.org
Quarta Outubro 29 03:20:50 BRST 2014


On Oct 28, 2014, Luciana Fujii <luciana em fujii.eti.br> wrote:

> Não acho que faz sentido a gente conseguir mais usuários para
> softwares quase livres, não acho que faz sentido incentivar o uso de
> Ubuntu, acho que temos que retomar os princípios e educar as pessoas
> sobre porque defendemos software livre, sobre porque software
> proprietário é anti-ético e agregar mais pessoas ao movimento, não
> simplesmente mais usuários de algum pedaço de software.

+1

Tipo, eu, quando evito usar software privativo, a primeira razão é auto
preservação.  Aceitar usar software privativo me tornaria vítima dele, e
não quer ser vítima nesse processo, muito menos correr o risco de me
tornar dependente.

Agora, outras pessoas podem olhar para a situação e decidir que, para
elas, vale o risco.  Algumas (a imensa maioria, que não está nesta
lista, e que idealmente estaríamos todos tentando alcançar), porque nem
entendem o risco, ou sequer sabem que algum risco existe ou que haveria
alternativa.  Outras, porque, mesmo entendendo perfeitamente o risco,
dentro de seu contexto, valores e possibilidades, concluem que não tem
outro jeito.  Nenhum de nós, que não está no lugar dessa pessoa, tem
como compreender plenamente uma decisão como essas, nem temos o direito
de exigir explicações, nem tem a pessoa obrigação alguma de se explicar
para nós.  A decisão, em última instância, é dela e só dela.  É claro
que podemos oferecer ajuda, tentar convencer a pessoa a mudar de ideia,
etc, mas devemos *sempre* lembrar que, se a pessoa está nessa situação,
de não ter encontrado alternativa ao uso de software privativo mesmo
entendendo os problemas que ele traz, antes de mais nada ela é uma
vítima.  Hmm, estou repetindo o que você disse: “não faz sentido
vilanizar”:

> Também concordo que como ativistas temos uma responsabilidade maior de
> dar exemplo. Porém, não acho legal ficar apontando o dedo pra
> pessoas.

Agora, também há que se levar em conta que, apesar de a decisão sobre o
que usar cabe à pessoa e só a ela, assim como a decisão sobre o que
promover para outros cabe também só a ela, quando o que a pessoa promove
desfaz o difícil trabalho de promoção que nós fazemos, temos um
problema.  Será que deveríamos nos silenciar ao ver alguém colocar outra
pessoa em situação de risco?  Será que as razões que levaram a primeira
pessoa a aceitar o risco se aplicam à segunda?

Além dessa questão, há que se considerar a efetividade de fazer uma
intervenção.  Minha experiência como ativista tem apontado para um
fenômeno que me pareceu inicialmente surpreendente, mas que hoje me
parece normal: quando se questiona uma incoerência, em que a pessoa
tomou uma decisão difícil sacrificando um valor aqui ou outro ali por
algo que, em seu julgamente, é um valor maior ou traz um resultado mais
importante, fazê-la confrontar publicamente a decisão tende a *reforçar*
o compromisso (trade-off) feito, uma vez que, ao revisitar os mesmos
valores e objetivos, a conclusão a que se chega é a mesma.  Em alguns
casos, vi pessoas chegarem a verbalizar que, após o enfrentamento,
passaram a agir de forma ainda mais contrária ao que foi sugerido, ainda
que reconhecendo a incoerência, mas atribundo a “culpa” por essa mudança
à pessoa que questionou.

Dado esse comportamente surpreendentemente comum, para que uma
intervenção funcione, precisa ser feita com muito mais cuidado do que
muitas vezes tomamos.  Não só porque vai tornar a convivência mais
saudável, mas porque vai nos tornar mais efetivos no ativismo.


> Bom, isso não justifica nada, mas eu convido a discutirmos também
> essas questões e quem sabe assim faça mais sentido pra mais gente.

+1

-- 
Alexandre Oliva, freedom fighter    http://FSFLA.org/~lxoliva/
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Be Free! -- http://FSFLA.org/   FSF Latin America board member
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