[PSL-Brasil] Original: Comunidade Ubuntu: volte para o Software Livre
Éder Saraiva Grigório
eder.grigorio em openmailbox.org
Domingo Fevereiro 22 14:06:18 BRT 2015
Sábias palavras, Anahuac. [2]
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Éder S. G.
On 02/22/2015 11:15 AM, Paulo Oliveira wrote:
> Sábias palavras, Anahuac.
>
> Paulo Oliveira
>
>
> Em 11 de fevereiro de 2015 12:41, <anahuac em anahuac.eu
> <mailto:anahuac em anahuac.eu>> escreveu:
>
>
>
> Se foram um pouco mais de dois anos desde que a Canonical decidiu
> enganar todos seus usuários instalando um programa pernicioso,
> invasivo e espião, sem dizer nada a ninguém, em seu sistema
> operacional batizado de Ubuntu. O programa em questão monitora suas
> pesquisas e entrega para a Amazon. Parou de fazer isso? Não faz a
> menor diferença.
>
> Eu costumava provocar meus amigos Debianers que Ubuntu é uma palavra
> africana que significa "Debian bem feito". A resposta era imediata,
> me corrigindo: "Ubuntu significa não sei instalar Debian". Piadas e
> provocações a parte, Ubuntu significa "Sou o que sou pelo que nós
> somos". O sentido poético é inspirador, afinal de contas, Ubuntu, eu
> e você deveríamos ser uma simbiose. Um conjunto. Um círculo, sem
> inicio nem fim, onde todos somos o que somos, pelo que todos somos.
>
> Mas o que somos? Antes de existir a Canonical ou Ubuntu, já éramos
> uma comunidade de Software Livre, do Movimento Software Libre.
> Compartilhamento, amizade, camaradagem, liberdade, honestidade, era
> isso o que éramos. No Brasil fomos um dos grupos mais bem
> estruturados e unidos. Os laços tem haver com a cultura, a fé, a
> pobreza financeira, a riqueza de espírito, a humanidade e
> especialmente o desejo que querer o melhor para nossos semelhantes.
> Essa é a essência do Movimento social e político do Software Livre.
>
> Ao longo do tempo aconteceu uma relação inversamente proporcional:
> quanto mais o Ubuntu evoluía como sistema operacional, menor era o
> compromisso da comunidade com os princípios do Software Livre.
> Ubuntu ficou mais fácil de instalar graças a seus drivers
> proprietários: a comunidade aceitou. A FSF denunciou o comportamento
> antiético e amoral da Canonical e a comunidade decidiu demonizar o
> Stallman. O kernel do Ubuntu é o que mais tem códigos não livres e a
> comunidade parece gostar cada vez mais.
>
> Em 2012, depois das denúncias da FSF eu deixei de usar Ubuntu.
> Convidei e continuo convidando muitos a fazerem o mesmo, afinal o
> conjunto Software Privativo + Spyware + Comportamento de Microsoft,
> não coaduna com os princípios do Software Livre. Até escrevi um
> outro artigo dando os detalhes, chamado "A Microsoftização da
> Canonical". Tenho alertado, pedido, conversado, escrito e
> palestrado. Mas parece que quanto mais eu falo, menos efeito tem.
> Até mesmo mega eventos de Software Livre, como o FISL e o Latinoware
> insistem em fazer amplo uso e propaganda da distribuição. É como se
> não usar Ubuntu fosse feio, impossível ou improvável. Percebo esse
> mesmo sentimento nos usuários dos produtos da Apple: sabem que não é
> correto, mas insistem em usar.
>
> É claro que se pode esperar comportamento antiético e amoral das
> empresas. Elas foram criadas para isso. Em uma economia capitalista
> não devemos ser ingênuos, certo? Então porque a comunidade Ubuntu
> não reage? Como é possível que a maior comunidade defensora de
> Software Livre do Brasil não defenda mais o Software Livre? Porque
> os milhares de ativistas que se esforçaram tanto para mostrar a seus
> amigos e parentes que usar GNU era melhor se calam, aceitam e
> divulgam algo que é contra seus princípios. O que mudou?
>
> Liberdade de código. Aquela que garante e perpetua a liberdade
> através da GPL. Aquela que transforma a relação entre os fabricantes
> e os consumidores, empoderando os usuários, finalmente. Liberdade de
> código que tornou restrições de área em DVD's obsoleta, que fez
> engenharia reversa em diversas placas Wifi. Liberdade que leva ao
> compartilhamento, que leva à excelência, que transforma software em
> serviço e não em produto. Liberdade que abalou as colunas dos
> grandes monopólios.
>
> A Comunidade Ubuntu mudou? Claro que sim! Muito mais adeptos, muito
> mais usuários, muito mais computadores instalados. Então o saldo é
> positivo, pois mais pessoas entendem que a liberdade do software
> lhes garante qualidade computacional, lhes dão mais poder nas
> relações comerciais e assim promovemos uma sociedade mais justa,
> certo? Infelizmente o resultado não foi bem esse. É fato que o
> número de usuários cresceu geometricamente, mas a grande maioria não
> faz ideia do que usa, nem dos benefícios do Software Livre. E todos
> os usuários de Ubuntu, sem exceção, estão usando Software Privativo.
>
> Pode-se argumentar que os usuários comuns não devem saber dos
> detalhes. Eles não entenderiam. Eles querem que "a coisa" funcione e
> nada mais. Pode ser, mas o risco de não educar as massas, é que
> quando o perigo se apresentar, elas não saberão distinguir entre o
> que é realmente certo, parcialmente certo, parcialmente errado ou
> realmente errado. Elas continuarão a querer apenas que " a coisa"
> funcione. Esse é o "Calcanhar de Aquiles" da massificação de usuários.
>
> Será que a Comunidade Ubuntu tem isso bem claro? Vocês estão
> distribuindo código fechado! Em vez de ajudar a libertar as pessoas,
> estão ajudando a aprisioná-las. Será que está claro que a
> complacência ao aceitar a presença de código privativo e do
> comportamento amoral da Canonical, terminam enfraquecendo todo o
> Movimento Software Livre em escala mundial?
>
> Sejam honestos com vocês mesmos. Será que não perceberam que
> "aberto" virou sinônimo de livre? É "open" isso, "open" aquilo.
> "Open": aberto não é o mesmo que livre. Algo aberto não muda a forma
> das pessoas pensarem, apenas ajusta a forma de se resolver
> problemas. Afinal de contas com acesso ao código e produzindo
> colaborativamente os negócios gastam menos e obtém melhores
> resultados. Mas desde quando a Comunidade Ubuntu passou a priorizar
> o desempenho das empresas em detrimento dos respeito às liberdades
> do usuários? Desde quando a ideia era facilitar a instalação do
> sistema operacional GNU, em detrimento do entendimento de seus
> princípios éticos e filosóficos?
>
> Este é um apelo a toda a Comunidade Ubuntu para que usem sua
> tenacidade, capacidade de mobilização, perseverança, doação e
> espírito, para mudar de distribuição. Mostrem a Canonical que a
> Comunidade Software Livre é muito maior e mais poderosa do que ela.
> Mostrem que o que vale é o Software Livre e tudo que ele representa,
> e não apenas "um rosto bonito", que nos engana, maltrata e
> desrespeita. Escolham uma outra distribuição realmente comprometida.
>
> Não somos ingênuos. Sabemos que o caminho é árduo. A batalha é
> sangrenta. O esforço é hercúleo. Mas podemos sim resgatar quele
> sentimento, aquela convicção de que se esta fazendo a coisa certa e
> não deliberadamente escolhendo o caminho mais fácil. Este é um
> convite para subirmos o Monte Everest mais uma vez. Desta vez do
> jeito certo.
>
> Já imaginaram o recado que a Comunidade Ubuntu daria ao se intitular
> Comunidade GNU?
>
> Saudações Livres!
>
>
> --
> Anahuac de Paula Gil
>
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