[CuritibaLivre] Uma contribuição ao debate em torno do Fórum

Gustavo S. de Lima gustavo em logicus.com.br
Quinta Outubro 31 14:02:09 BRST 2013


Estou escrevendo este texto não apenas para emitir uma opinião. Mas 
também para compartilhar algumas angústias com relação aos temas que tem 
envolvido nossa atuação enquanto comunidade. Não tenho a pretensão nem 
de empurrar essas questões e nem de dizer que elas são as certas. Até 
por isso mesmo as coloco aqui, para debatermos, fraternalmente, num 
diálogo aberto, e inclusive para o meu próprio esclarecimento, já que 
também estou atrás de entendimento sobre tudo o que tem acontecido.

Percebemos que o software livre tem se tornado a principal solução para 
o mercado em termos de tecnologia nestes tempos de transição para a 
chamada computação em nuvem. É difícil compreender isso em dados porquê 
faltam tabelas analíticas, estudos, etc. Mas o crescimento do uso de 
ferramentas livres na iniciativa privada e pública ajudam a ver isto.

Creio que uma pergunta interessante é: quais as consequências da adesão 
massiva do mercado de software livre para a filosofia e cultura do 
software livre? Não sabemos muito bem ainda  onde isto vai parar, se vai 
parar. Não sabemos se isso vai significar uma proliferação da filosofia 
e cultura do software livre ou se isso vai significar o seu fim. Mas 
penso que é importante que a comunidade de um modo ou de outro defenda 
este lado do software livre. Ou seja, o lado que justamente não tem sido 
absorvido pelo mercado, que é o do modelo de pensamento que está no 
âmago do software livre. O modelo de um desenvolvimento livre porque se 
pretende também e além de tudo social. Daí resulta uma reflexão que 
proponho aos colegas da comunidade: sem a discussão política que permeia 
o software livre, ou seja, impulsionando a ferramenta pela ferramenta, 
não estaríamos apenas fazendo justamente o que mercado tem demandado? O 
software livre sem ideologia... Mas é possível? E pra quem isso é 
interessante? Será que os profissionais de software livre que passam a 
ser incorporados por esse mercado se enquadrarão em métodos de trabalho 
diferentes daqueles já cristalizados?

O interesse de entidades associativas tradicionalmente encabeçadas por 
empresas do modelo proprietário de software no uso de ferramentas livres 
não advém de uma adoção da sua ideologia. Isto parece muito claro. O que 
percebemos é que estas empresas descobriram que não há saída senão pelo 
software livre e partiram para a sua adoção de modo a permanecer na 
crista da onda, inclusive mantendo seu espaço privilegiado na 
participação de licitações estatais que agora já começam a privilegiar o 
uso de software livre. Todo o sinal de adoção desta tecnologia por parte 
dessas associações portanto deve ser visto com cautela. Não que isso não 
possa ser comemorado, mas é bom refletir sobre o porquê uma porta que 
historicamente foi fechada de repente se abre, no mais alto estilo 
Sílvio Santos com a sua “Portas da Esperança”. Brincadeiras a parte, 
para lembrar de um ditado popular, “quando a esmola é demais, o Santo 
desconfia”.

Mais especificamente sobre a parceria entre o atual governo e a 
Microsoft penso que o debate será cansativo. Isso porquê do ponto de 
vista moral da estrutura de pensamento do sistema político dominante 
basta que algo seja juridicamente viável para que seja moralmente 
aceito. Quando isto se torna um problema, muda-se a lei, pois quem detém 
o poder econômico também detém o poder de mudar a legislação não é 
mesmo. Vemos isto diariamente. Daí um dos motivos de também nos 
prepararmos politicamente, para que isso não ocorra tão facilmente, às 
nossas custas, sacrificando os nossos.

Nosso Fórum Permanente em Prol do Software Livre por isto pouco demanda 
uma tarefa interessantíssima para o conjunto da sociedade. A forma como 
o planeta irá consumir e produzir tecnologia está passando em nossa 
frente, mas numa velocidade tão incrível que não estamos conseguindo ver 
quem está no seu interior. Só vemos vultos.... O problema é que a forma 
como a tecnologia é feita também determina as relações sociais. Um 
exemplo é que todos os eletrônicos produzidos no mundo hoje demandam a 
extração de dois minerais extraídos no Congo, onde estão 90% de suas 
reservas. O uso do Nióbio que tem crescido ferozmente tem feito 
inclusive que empresas como a Microsoft se instalem também no Brasil 
(onde está 98% do Nióbio do mundo). Tanto que a tática da Microsoft foi 
esperar uma semana pra explicar o porquê o seu video-game era bem mais 
barato que o Playstation. Toda essa tecnologia (pra citar menos de 1%) 
tem demandado um novo sistema de produção de software, onde inclusive a 
própria Microsoft já apontou que gostaria de trabalhar com licenças GPL. 
Oras bolas! Quer dizer que o software livre está crescendo?! Pode, quem 
sabe. Richard Stallman não ve dessa forma com certeza. Mas pode dizer 
também que o Software Livre está sendo conduzido, levemente coptado, 
convidado de honra de uma festa feita as pressas para indicar que os 
grupos dominantes só agora perceberam que brigar é mais difícil que 
fazer do seu inimigo histórico um amigo de fins de semana, onde uma mesa 
farta de jantar tem comprado muitos nossos. Caramurú, dissemos por muito 
tempo. Hoje estamos recebendo espelhos. O que virá depois disso? Só 
nossos netos poderão dizer...


Gustavo


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