[Pontosdecultura] [CULTURA FEMINISTA] Artigo:As relações profissionais no mercado de trabalho doméstico brasileiro mantêm resquícios dos tempos da sociedade escravocrata.

Leila L lopeslei em gmail.com
Terça Março 19 17:56:16 BRT 2013


A sexualidade também aparece como campo permeado por preconceito nos  
discursos analisados. Segundo a autora, a visão que as patroas demonstram  
ter da classe profissional é a de ser formada por vagabundas – as chamadas  
“piriguetes” –, ou por evangélicas, tidas como “falsas santas”, que  
utilizam a religião para se mostrarem boas trabalhadoras. É comum ainda que  
as empregadas sejam vistas como ameaça de sedução aos maridos. “Essa imagem  
foi historicamente construída, pois, no período escravocrata, muitas  
mulheres eram servas sexuais”, salienta Juliana, acrescentando que a  
questão está ligada também à imagem da mulher negra no Brasil. Para ela, a  
sensualização da figura da “mulata” no Brasil abrange fortemente a classe  
das domésticas, negras em sua maioria. Além disso, a autora salienta que o  
preconceito também se faz notar por meio da utilização recorrente de  
expressões como “Ô, raça!”, que revelam uma discriminação velada,  
enquadrada no mito da democracia racial. Os discursos também são marcados  
pela forte diferenciação entre pobres e ricos – e pelo suposto risco que as  
domésticas representam por se constituírem em elo com regiões periféricas  
da cidade. “Ela rompe com essa delimitação espacial quando entra nas casas  
em que trabalha, levando consigo elementos culturais de seu meio”, explica  
a doutoranda. “Como resultado, as patroas temem, por exemplo, a influência  
que babás podem exercer sobre seus filhos", lembra a pesquisadora. O  
estereótipo rico-pobre emerge também na percepção de que as empregadas  
desejam os bens materiais das patroas, não podendo, assim, recusar aquilo  
que lhes é ofertado. “As patroas se consideram boas empregadoras porque dão  
às domésticas coisas velhas que não usam mais, exercendo práticas que, no  
fundo, mantêm a hierarquia entre pobres e ricos". Em geral, domésticas  
também são consideradas um ônus, pois não geram lucros, como os  
trabalhadores inseridos em organizações. Aos olhos das patroas, elas trazem  
apenas prejuízos. “Nesse sentido, é comum encontrar discursos em que se  
diz: 'Pago todos os direitos, tudo certinho', como se isso fosse algo além  
da obrigação de qualquer empregador”, aponta a autora. Mudança de cenário  
De acordo com Juliana, ao evidenciarem saudosismo em relação ao período da  
escravidão, os discursos presentes na comunidade evidenciam a reação das  
patroas diante das mudanças ocorridas nos últimos anos no cenário de  
trabalho doméstico no Brasil. “Há escassez de domésticas que procuram  
emprego como mensalistas e crescimento do número de diaristas, o que  
proporciona maior autonomia a essas mulheres nas relações de trabalho”,  
ressalta ela, observando que também houve aumento no nível de escolaridade  
da classe. Para a pesquisadora, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)  
que garante aos empregados domésticos os mesmos direitos assegurados aos  
demais trabalhadores – que deverá ser votada nos próximos dias pelo  
plenário do Senado – é outro fator positivo nesse contexto de  
transformações, pois busca reparar uma desigualdade histórica. No entanto,  
em sua opinião, ela não implica necessariamente mudanças na maneira de se  
construir e representar socialmente a empregada doméstica no Brasil. O  
artigo premiado se insere em linha de pesquisa que integra movimento  
contra-hegemônico no campo da Administração, em geral marcado por estudos  
mais gerencialistas, direcionados aos problemas de grandes organizações e  
de seus líderes. Juliana Teixeira faz parte do Núcleo de Estudos  
Organizacionais e Sociedade (Neos), coordenado pelo professor Alexandre de  
Pádua Carrieri, que também é seu orientador de doutorado. A proposta do  
grupo é articular teorias organizacionais com pensamento social,  
estabelecendo interfaces com disciplinas como sociologia, antropologia,  
psicologia, filosofia e linguística. É esse enfoque crítico que permite que  
empregadas domésticas sejam objeto de investigação nesse campo de pesquisa.  
O prêmio Construindo a Igualdade de Gênero é um concurso de redações,  
artigos científicos e projetos pedagógicos sobre relações de gênero,  
mulheres e feminismos. Instituída em 2005 pela Secretaria de Política das  
Mulheres, no âmbito do programa Mulher e Ciência, a premiação é apoiada  
pelo CNPq, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e  
Diversidade, pela Secretaria de Educação Básica e pela ONU Mulheres.  
(Gabriella Praça) Texto. https://www.ufmg.br/online/arquivos/027659.shtml  
imagem.  
http://www.juxtapoz.com/current/bodybuilders-world-photos-by-kurt-stallaert

A sexualidade também aparece como campo permeado por preconceito nos  
discursos analisados. Segundo a autora, a visão que as patroas demonstram  
ter da classe profissional é a de ser formada por vagabundas – as chamadas  
“piriguetes” –, ou por evangélicas, tidas como “falsas santas”, que  
utilizam a religião para se mostrarem boas trabalhadoras. É comum ainda que  
as empregadas sejam vistas como ameaça de sedução aos maridos.

“Essa imagem foi historicamente construída, pois, no período escravocrata,  
muitas mulheres eram servas sexuais”, salienta Juliana, acrescentando que a  
questão está ligada também à imagem da mulher negra no Brasil. Para ela, a  
sensualização da figura da “mulata” no Brasil abrange fortemente a classe  
das domésticas, negras em sua maioria. Além disso, a autora salienta que o  
preconceito também se faz notar por meio da utilização recorrente de  
expressões como “Ô, raça!”, que revelam uma discriminação velada,  
enquadrada no mito da democracia racial.

Os discursos também são marcados pela forte diferenciação entre pobres e  
ricos – e pelo suposto risco que as domésticas representam por se  
constituírem em elo com regiões periféricas da cidade. “Ela rompe com essa  
delimitação espacial quando entra nas casas em que trabalha, levando  
consigo elementos culturais de seu meio”, explica a doutoranda. “Como  
resultado, as patroas temem, por exemplo, a influência que babás podem  
exercer sobre seus filhos", lembra a pesquisadora.

O estereótipo rico-pobre emerge também na percepção de que as empregadas  
desejam os bens materiais das patroas, não podendo, assim, recusar aquilo  
que lhes é ofertado. “As patroas se consideram boas empregadoras porque dão  
às domésticas coisas velhas que não usam mais, exercendo práticas que, no  
fundo, mantêm a hierarquia entre pobres e ricos".

Em geral, domésticas também são consideradas um ônus, pois não geram  
lucros, como os trabalhadores inseridos em organizações. Aos olhos das  
patroas, elas trazem apenas prejuízos. “Nesse sentido, é comum encontrar  
discursos em que se diz: 'Pago todos os direitos, tudo certinho', como se  
isso fosse algo além da obrigação de qualquer empregador”, aponta a autora.

Mudança de cenário
De acordo com Juliana, ao evidenciarem saudosismo em relação ao período da  
escravidão, os discursos presentes na comunidade evidenciam a reação das  
patroas diante das mudanças ocorridas nos últimos anos no cenário de  
trabalho doméstico no Brasil. “Há escassez de domésticas que procuram  
emprego como mensalistas e crescimento do número de diaristas, o que  
proporciona maior autonomia a essas mulheres nas relações de trabalho”,  
ressalta ela, observando que também houve aumento no nível de escolaridade  
da classe.

Para a pesquisadora, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que garante  
aos empregados domésticos os mesmos direitos assegurados aos demais  
trabalhadores – que deverá ser votada nos próximos dias pelo plenário do  
Senado – é outro fator positivo nesse contexto de transformações, pois  
busca reparar uma desigualdade histórica. No entanto, em sua opinião, ela  
não implica necessariamente mudanças na maneira de se construir e  
representar socialmente a empregada doméstica no Brasil.

O artigo premiado se insere em linha de pesquisa que integra movimento  
contra-hegemônico no campo da Administração, em geral marcado por estudos  
mais gerencialistas, direcionados aos problemas de grandes organizações e  
de seus líderes. Juliana Teixeira faz parte do Núcleo de Estudos  
Organizacionais e Sociedade (Neos), coordenado pelo professor Alexandre de  
Pádua Carrieri, que também é seu orientador de doutorado.

A proposta do grupo é articular teorias organizacionais com pensamento  
social, estabelecendo interfaces com disciplinas como sociologia,  
antropologia, psicologia, filosofia e linguística. É esse enfoque crítico  
que permite que empregadas domésticas sejam objeto de investigação nesse  
campo de pesquisa.

O prêmio Construindo a Igualdade de Gênero é um concurso de redações,  
artigos científicos e projetos pedagógicos sobre relações de gênero,  
mulheres e feminismos. Instituída em 2005 pela Secretaria de Política das  
Mulheres, no âmbito do programa Mulher e Ciência, a premiação é apoiada  
pelo CNPq, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e  
Diversidade, pela Secretaria de Educação Básica e pela ONU Mulheres.

(Gabriella Praça)

Texto. https://www.ufmg.br/online/arquivos/027659.shtml

imagem.  
http://www.juxtapoz.com/current/bodybuilders-world-photos-by-kurt-stallaert


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Postado por Leila L no CULTURA FEMINISTA em 3/19/2013 01:56:00 PM
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