[PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo

anahuac em anahuac.eu anahuac em anahuac.eu
Quinta Maio 22 20:19:06 BRT 2014


Olá Bruno,

Não importa o quanto você repita: acredito muito mais no nosso posicionamento nacional da comunidade software livre de utilizar tecnicas "open source" para discutir a etica "free software".

Eu não acredito nisso, simplesmente refuto essa afirmação. Acho que os tempos modernos provam que ela não se sustenta. Teus argumentos mais parecem prospecção de mercado consumidor do que em algo que de fato faça a diferença nas relações sociais e políticas. É claro que assim você facilita o uso dos programas de computador livres, mas não está fazendo nenhum bem para esses mesmos usuários e ou desenvolvedores. No final a argumentação pragmática e tolerante que você defende somente reforça o uso dos programas de código aberto para infligir mais controle, dos que sempre os tiveram, do que liberdade para seus usuários.

mais uma vez, o exemplo do Android deixa isso evidente. Se supõe que ele seja livre, se supõe que sua disseminação massiva - é o mais usado em dispositivos móveis do mercado - trouxesse algum entendimento sobre os benefícios da liberdade do código. Não é o que acontece. 99% dos usuários não faz ideia do que está usando, nem de suas vantagens. A aplicação de "versões mais livres" é difícil e perigosa - você pode "brickar" o aparelho, e a maioria esmagadora dos desenvolvedores faz aplicativos proprietários. No final quem ganhou com o pragmatismo e a tolerância na disseminação do uso desse código aberto?

Ficamos tanto tempo usando a metodologia OSI para discutir a ética Software Livre que já quase não a discutimos mais. O ostracizados são os defensores do modelo do viés ético e filosófico, eu incluído. O interessante é que essa reação é resultado de um esforço da própria comunidade e Movimento Software Livre que está, a tempo demais, misturando SL e OSI, e se deixando levar por esse pragmatismo e tolerância. Eu realmente acredito que o OSI, hoje, faz mais mal do que bem ao Movimento Software Livre. Estou convencido que é chegada a hora de separar as duas vertentes para deixar claro que somos sim, movimentos, comunidades e grupos que enxergam o mesmo problema de formas bem diferentes.

Acho que esta na hora das comunidades, associações e eventos de Software Livre ressurgirem buscando muito mais coerência, mais ética e se aproximando mais do discurso da FSF do que da OSI. Hora da OSI fazer seus próprios eventos exercendo seu pragmatismo e tolerância. Assim evitamos confusões conceituais, ostracismos e evitando gastar energia tentando convencer, uns aos outros de que seu método é melhor.

Eu acho sim que é péssimo usar as ferramentas do Google, não importando o quanto ela financie desenvolvedores de software de código aberto. Da mesma forma que refuto colaboração ou investimentos desse tipo provindos da Microsoft. As duas tem o mesmo objetivo, apenas usam abordagens diferentes para alcançá-lo. Dentro da minha visão de Software Livre, o financiamento de uma empresa no código aberto não a transforma em amiga da ética. Essa ética não está a venda.

Acho que se dedicou tempo demais ao uso das técnicas OSI de convencimento da adoção do Software Livre. Acho que estamos no limiar de não conseguirmos mais reverter. Software Live se baseia na ética e na ideologia, e a OSI no modelo de produção e adoção mercantilista. Hora se parar as coisas. Hora de buscar o equilíbrio nessa balança, que hoje, pende perigosamente para o OSI.

Saudações Livres!



----- Mensagem original -----
> De: "Bruno F. Souza" <bruno em javaman.com.br>
> Para: "PSL-Brasil" <psl-brasil em listas.softwarelivre.org>
> Enviadas: Quinta-feira, 22 de maio de 2014 16:59:19
> Assunto: Re: [PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo
> 
> 
> Ola Anahuac,
> 
> Fico feliz que essa troca de emails serviu para chegarmos a uma discussao
> muito mais interessante. Voce esta mostrando que eh perfeitamente possivel
> discordar de um posicionamento sem recorrer a criticas distorcidas. Voce tem
> toda a razao em defender o software livre como discurso etico e social, acho
> importante o debate.
> 
> O movimento software livre no Brasil -- ate pelo envolvimento de pessoas como
> voce -- nunca abandonou o discurso etico, e eh por isso que eu acredito
> muito mais no nosso posicionamento nacional da comunidade software livre --
> de utilizar tecnicas "open source" para discutir a etica "free software" --
> do que a polarizacao de "free software" vs "open source" que vemos em outros
> lugares.
> 
> Talvez nao tenha ficado claro dessa discussao, mas a OSI nao despreza os
> pontos eticos do software livre. Vou reforcar isso, ja que parece que se
> perde no meio de tao longos emails: a OSI foi fundada por desenvolvedores e
> sempre acreditou na etica do desenvolvimento de software livre. Mas a OSI
> reconhece que a mensagem da etica eh de dificil aceitacao para a grande
> maioria dos envolvidos no desenvolvimento de software -- em especial
> empresas e nao-desenvolvedores -- e portanto, a OSI foca em uma mensagem
> mais pragmatica, focada nos beneficios. A discussao da etica sera sempre a
> melhor estrategia para falar com os desenvolvedores, mas em geral, nao sao
> eles que precisam ser convencidos.
> 
> O fato que muito mais gente participa do movimento, e que a discussao eh
> global, apenas permite com que a sua mensagem etica possa atingir um publico
> mais preparado para aceitar e ouvir o que voce tem a dizer. Antes, quando se
> falava de software livre, a discussao era ingloria... Como voce mesmo
> colocou, era necessario mostrar que era possivel ganhar dinheiro, que era
> possivel se fazer software de qualidade, que outros modelos que nao fossem o
> modelo proprietario eram viaveis. Hoje, apenas os totalmente alienados nao
> veem que software livre eh a base para tudo o que fazemos no mundo do
> software. Voce pode ate achar incongruente que alguem use software livre e
> proprietario ao mesmo tempo, mas o fato dele perceber que ambos estao em
> patamares semelhantes (tecnico, financeiro, de adocao, etc), torna o
> convencimento etico muito mais viavel. Enquanto o software livre era
> marginal, a vantagem etica nao era suficiente para convencer a maioria. Com
> o software livre se tornando parte do dia a dia de todos, a etica eh uma
> vantagem nossa que o software proprietario nao tem como copiar, e que eh
> portanto muito mais facil de ser apresentada.
> 
> A comunidade de software livre nao deixou de ser etica. O que eu acredito eh
> que mais gente faz parte dela, e nem todos estao educados e entendem a
> discussao etica. Acredito que eh sim importante reposicionar e fortalecer
> essa discussao, mas acredito que isso eh mais facil hoje do que foi ontem.
> 
> Por outro lado, muita dessa discussao ignora os principais motores da
> comunidade software livre, que sao os desenvolvedores. Por exemplo, voce
> considera incoerente que alguem venha palestrar no FISL usando MacOS ou
> Windows, mas se esse palestrante vem mostrar o software livre que ele
> desenvolveu em uma dessas plataformas, ele deveria ser aplaudido e nao
> escorracado. Nao importa qual plataforma o desenvolvedor utilize, se o foco
> dele eh desenvolver software livre, ele esta sim sendo etico e esta sim do
> lado da comunidade software livre. Citando Richard Stallman:
> 
> 	"If your program is free software, it is basically ethical [...]
> 	Whether any given program in source form is free software depends solely
> 	on the meaning of its license."
> 	
> 	"Se seu programa eh software livre, ele é basicamente ético [...]
> 	Um programa ser software livre depende basicamente do significado da
> 	sua licenca."
> 	https://www.gnu.org/philosophy/java-trap.html
> 
> Portanto, sejamos coerentes, e vamos sempre aplaudir o desenvolvedor que esta
> fazendo a sua parte, e esta sendo etico. Inclusive, se voce quer resgatar a
> discussao etica, seria importante que eventos como o FISL tivessem um maior
> foco no desenvolvimento de software. Essa eh uma discussao que eu sempre
> tive durante a montagem do conteudo do evento, que eh aumentar o foco no
> desenvolvimento. As discussoes politicas, sociais e eticas sao muito bem
> vindas, mas de nada adiantam se nao atraem o desenvolvedor de software, que
> eh basicamente a base dessa comunidade.
> 
> Quando o foco eh a geracao de software livre, existem dois grupos que sao
> capazes de colocar uma licenca livre em um software. O desenvolvedor, se ele
> desenvolve por conta propria. Ou seu chefe (a "empresa"), se ele trabalha
> para alguem. Convencer o desenvolvedor com o valor etico eh valido.
> Convencer a empresa com o valor pratico tambem eh valido. Ambos resultam em
> mais software livre. Qualquer outro esforco, que promova o uso de software
> livre pelos usuarios, que mostre aos usuarios as vantagens da liberdade,
> etc, pode ser importante para promover o software livre. Mas sem ter quem o
> crie, eh uma discussao esvaziada.
> 
> Isso eh importante tambem para os esforcos com o governo. Investe-se muito em
> convencer o uso. Discute-se leis que promovam ou exigam a adocao. E todo o
> software desenvolvido para o governo, sendo pago pelo governo? Porque esses
> desenvolvedores nao tem o direito, ou talvez devessem ter o dever, de
> desenvolver software livre, que possa beneficiar a todos? Isso vale para as
> empresas tambem. Voce pode considerar que ao se render ao Google foi pessimo
> para voce como usuario. Mas se nosso foco eh o desenvolvedor, considerar a
> quantidade de pessoas que sao pagas pelo Google para desenvolver software
> livre, isso eh valido? Richard Stallman disse uma vez:
> 
> 	 “I think Sun has contributed more than any other company to the
> 	free software community in the form of software. It shows leadership.
> 	It's an example I hope others will follow.”
> 	"Eu acho que a Sun contribuiu mais do que qualquer outra empresa
> 	aa comunidade software livre na forma de software. Mostra lideranca.
> 	Eh um exemplo que eu espero outros vao seguir."
> 	http://www.fsf.org/news/fsf-welcomes-gpl-java.html
> 
> Eu tenho certeza que voce vai encontrar dezenas de razoes para nao usar os
> produtos e servicos que a Sun disponibilizava na epoca. Ou agora, a Oracle.
> Mas isso nao muda o fato que a Sun (e agora a Oracle) pagam centenas de
> desenvolvedores para desenvolver software livre. Se queremos um mundo
> realmente livre, onde os usuarios terao a liberdade de fazer o que quiserem
> com seu software, nos precisamos de mais desenvolvedores nessa situacao. E
> convencer as empresas eh uma forma de acelerar isso!
> 
> Eu tenho certeza que a comunidade software livre brasileira pode incentivar a
> criacao. Nao acredito que seja necessario ostracizar quem parece incoerente.
> Precisamos eh que 100% de todo o software distribuido, seja distribuido sob
> uma licenca livre. Pra isso, podemos ate incentivar o uso, mas o foco tem
> que ser na criacao.
> 
> []s,
> Bruno.
> 
> 
> 
> 
> On 22/05/2014, at 00:20, anahuac em anahuac.eu wrote:
> 
> > 
> > Olá Pessoal,
> > 
> > Demorei um pouco para elaborar da forma mais elegante que pude o que penso
> > sobre o assunto.
> > Terminou saindo mais um artigo,longo, sobre o tema.
> > 
> > Aos que quiserem imergir, boa sorte :-)
> > 
> > Olá Bruno,
> > 
> > O artigo não é uma resposta direcionada a você, mas como você me citou
> > nominalmente tomei a liberdade de fazer o mesmo.
> > Sugiro que você dê uma lida nos demais artigos que escrevi sobre o tema,
> > começando por um chamado "A microsoftização da Canonical".
> > Estão todos disponíveis no meu site: http://www.anahuac.eu
> > 
> > E só para finalizar, eu não sou membro da FSF, nem da FSFLA, nem da ASL,
> > nem da organização do FISL... na verdade eu sou apenas dedicado ativista
> > do Movimento Software Livre.
> > 
> > 
> > -----------------
> > 
> > Pragmatismo Open Source ameaça o Software Livre
> > 
> > 
> > É sério, tenho me sentido dentro de um episódio do fantástico Além da
> > Imaginação, serie de TV dos anos 80 que colocava seus personagens em
> > situações surreais. Num desses episódios um cara acorda e ninguém entende
> > o que ele fala. As palavras estão trocadas, ou seja, tem significados
> > diferentes. Na cena final, resignado, ele ouve o filhinho lhe ensinando
> > que o ultimo dia da semana se chamava "dinossauro". Tenho me sentido
> > assim. Liberdade e coerência perderam completamente o significado. Entrei
> > numa máquina do tempo ou perdi o bonde?
> > 
> > Em que momento Software Livre virou sinônimo de Open Source? Quando foi que
> > GNU virou sinônimo de Linux? Quando foi que usar Facebook e Gmail passou a
> > ser aceitável?
> > 
> > Como o significado mudou, o que eu escrevo não tem o efeito esperado. Os
> > leitores reagem como se eu os estivesse ofendendo, acusando, diminuindo.
> > Não dá para refutar a Lei da Gravidade nesta dimensão, é algo que se
> > aplica a tudo e a todos. Não é uma ofensa pessoal lembrar as pessoas que
> > ela existe e é imutável. Você tem todo o direito de se ofender, de berrar,
> > de apontar minhas incoerências, me taxar de improdutivo, estrela, chato,
> > feio e bobo. Mas adivinha? A Gravidade não vai deixar de existir por causa
> > disso. Então vou repetir, de novo: Software Livre e Open Source Initiative
> > não são a mesma coisa. Mas não tome a minha palavra apenas.
> > 
> > Na lista do PSL-BR, Bruno Souza, diretor da OSI, me deu uma explicação
> > prolixa[1], dizendo que SL e OSI são de fato movimentos diferentes -
> > obrigado Bruno -  mas que lutam pela mesma coisa: liberdade do código para
> > proteger o usuário. Segundo a explicação o que diferencia o movimentos da
> > iniciativa é a abordagem. A OSI teria um "aproach" mais pragmático,
> > direcionado aos tomadores de decisão, empresários e pessoas que não
> > entendem argumentos como liberdade e ética como vantagens competitivas em
> > uma economia de mercado, então a OSI usa argumentos como qualidade de
> > software, desempenho, custo e outros que soam mais atraentes para esse
> > público. Segundo meu entendimento da lógica OSI a ideia é levar o código
> > livre a maior quantidade possível de pessoas através do convencimento dos
> > usuários e tomadores de decisão, inclusive sendo complacente com o uso de
> > Software Proprietários e serviços privativos se isso for necessário. O
> > objetivo é, no fim, popularizar o uso de softwares que tenham códigos
> > disponíveis.
> > 
> > Enquanto isso no SL a preocupação é com os princípios éticos, ideológicos,
> > sociais e políticos do uso de Software Livre e por conseguinte, dos
> > malefícios do uso de Softwares Proprietários e serviços privativos. A
> > abordagem é focada nos benefícios sociais, no combate às mazelas políticas
> > e de controle impostas pelo código fechado. O "aproach" é mais na linha do
> > "por um Mundo melhor", algo meio hippie, meio ecologista, algo mais
> > lúdico. Alguns, inclusive, definem essa abordagem de utópica. Como o
> > próprio Stallman diz que o Software Livre é "um movimento social e
> > político pela liberdade dos usuários de programas"[2]. Não se trata de
> > fazer o programa ser mais vendável ou aceitável, é sobre convencimento
> > ético e filosófico através do entendimento dos benefícios do uso de
> > Softwares Livres. Dureza! Mas é isso.
> > 
> > Então temos duas formas de propagar uma ideia. Uma focada nos benefícios
> > éticos e o outro nos benefícios comerciais. Eu não vou fazer juízo de
> > valor. Resumindo é isso.
> > 
> > Compreendidas as diferenças elementares agora cabe avaliar a evolução do
> > movimento e da iniciativa e ver como estamos hoje. Esta é a minha visão e
> > pode não ser fidedigna e, talvez, nem mesmo realista. No decorrer da
> > última década a abordagem da OSI foi extremamente bem sucedida, pois o
> > convencimento pelos argumentos OSI massificaram o uso de softwares com
> > código aberto para pessoas que nem sabem o que é isso. O Android é um
> > excelente exemplo disso, por exemplo. Entretanto o companheiro de luta, o
> > SL vem falhando fragorosamente. Trata-se de uma  relação inversamente
> > proporcional: quanto mais usuários de softwares de códigos abertos, menos
> > usuários nas fileiras do Software Livre. Porque será?
> > 
> > Permitam-me ir um pouco mais fundo na análise. Quando o movimento SL nasceu
> > no Brasil, ele era eminentemente SL. Foi a convicção ética, social e
> > política de que o Software Livre era bom para a sociedade que motivou a
> > maioria dos ativistas. Foi baseado nessas premissas que se fundou o
> > CIPSGA, o Projeto Software Livre Brasil , a ASL, o FISL e tantos outros
> > exemplos. A prova disso são as infindáveis palestras sobre como ganhar
> > dinheiro com Software Livre em quase todos os eventos. Fomos uma legião de
> > ativistas que eram constantemente chamados de radicais pelas empresas de
> > Software Proprietário e seus aliados. Essa foi a tônica até que o Google
> > mudou a forma de lidar com o Software. A licença GPL define lealmente o
> > que é Software Livre e ficava fácil distinguir. Com os serviços em nuvem a
> > faixa cinza do que era ou não aceitável ficou muito maior. Era possível
> > usar os serviços do Google, como Gmail, sem desrespeitar a GPL nem nenhum
> > princípio explícito da FSF. Esse argumento foi usado massivamente por
> > praticamente todos os ativistas.A GPL3 não emplacou.
> > 
> > Me lembro bem do primeiro FISL em que o Google apareceu nos crachás do
> > evento. Minha primeira reação foi pedir uma caneta Pilot e riscar o nome
> > dela. Lembro das caras de indignação de todos, afinal o Google era uma
> > empresa "amiga" que estimula e contribui com o Software Livre e a prova
> > estava ali, no patrocínio do FISL. Gastei muitas horas tentando explicar
> > às pessoas o porque elas estavam erradas e como o Google se aproveitou das
> > brechas da GPL2 e usando todos os argumentos comerciais tinha convencido a
> > todos. Foi muito triste. Mas, vejam vocês: três anos depois eu mesmo me
> > convenci de que não havia problema e criei minha conta no Gmail. E vivi
> > feliz na "Matrix" por dois anos. Foram os argumentos de popularização, de
> > massificação, de otimização e toda essa terminologia mercantilista
> > associada à verdadeira funcionalidade de suas ferramentas que tinham me
> > convencido. Porque não fui cativado pelo Windows, mas sim pelo Google?
> > Agora éramos uma legião de ativistas de Software Livre que tínhamos
> > sucumbido ao argumento OSI de atingir as massas através do pragmatismo
> > mercantilista, enfurnados como felizes usuários de uma ferramenta
> > proprietária e todos seus encantos.
> > 
> > O salto das ferramentas do Google para o Facebook, Skype, OS X, iPhones e
> > outras é mais da mesma explicação acima. Trata-se da evolução lenta e
> > gradual da complacência dos argumentos do "aproach" OSI de militância que
> > permitiu atingir milhares de pessoas, mas usando as ferramentas e meios
> > complacentes que o SL não aceita: uso do Facebook, catalisando as relações
> > com a Apple que usa BSD, justificando a inserção de códigos proprietários
> > no Kernel Linux, achando que a inserção de spyware no Ubuntu é algo
> > irrelevante, e muito mais. E com esses resultados palpáveis para mostrar
> > que sua forma de atingir o mesmo objetivo do Software Livre era certa,
> > grupos de usuários inteiros, eventos inteiros e muitos radicais foram
> > convencidos a também serem complacentes. Assim, de complacência em
> > complacência, os ativistas que outrora se posicionavam pela forma SL de
> > atingir o objetivo, migraram para a forma OSI de atingir o objetivo.
> > 
> > Essa migração natural é fruto da complacência pragmática do OSI. Fui vítima
> > dela. Como disse num artigo anterior, é difícil trocar os confortos da
> > Matrix pelo creme sintético à bordo da Nabucodonosor. As tentações são
> > muitas, sejam comerciais, de alcance efetivo da militância. Quem pode
> > desprezar o argumento de que de atingem, literalmente, milhões de pessoas
> > usando o Facebook? Quem pode desprezar as pressões sociais de nosso modelo
> > econômico lhe empurrando todo santo dia para o consumismo e portanto para
> > o "ganhar dinheiro" é mais importante? Quem pode suportar todos os
> > inconvenientes de não estar "na moda", "na onda", "com o melhor design"?
> > Quem consegue suportara tudo isso mesmo vendo que seus companheiros de
> > ativismo também estão nessa onda? Quase impossível. Sem nenhum medo de
> > errar, só posso citar o Stallman. E é exatamente por isso que ele foi
> > transformado em um "mal necessário". Percebam a inversão da situação. Um
> > dia o argumento era de que a convivência com o Software Proprietário seria
> > "um mal necessário" para poder atingir nosso objetivo. Hoje, em quase
> > todas as mensagens mais elaboradas vejo algo do tipo "os radicais são
> > necessários". O Stallman pela sua inabilidade natural de relacionamento
> > interpessoal, tem sido agredido de todas as formas possíveis, exatamente
> > porque ele não se deixa levar pela complacência.
> > 
> > Juntam-se então a fome com a vontade de comer: o pragmatismo técnico
> > mercadológico dos argumentos OSI cai como uma luva na insaciável busca das
> > corporações e governos de eliminar custos e aumentar produtividade sem
> > nenhum questionamento ideológico. Empresas modernas e antenadas percebem a
> > oportunidade e faturam, se apropriando da inteligência coletiva, do
> > esforço de milhares para criar seus monopólios, suas redes sociais, seus
> > dispositivos interconectados, sempre com o mesmo objetivo: ganhar para
> > eles. Aos "bobinhos" do Software Livre organizam gincanas como o Google
> > Summer of Code. Arregimentam os melhores do mercado do código aberto,
> > agora para trabalhar internamente em suas super estruturas. Não é mera
> > coincidência, no Brasil, que esses melhores eram também os líderes de
> > diversas comunidades, grupos e eventos de Software Livre. É assim que o
> > GNU se transforma em Linux. É o argumento OSI quem elimina o GNU.
> > 
> > Então, se SL e OSI são aliados para alcançar o mesmo objetivo, é chegada a
> > hora de fortalecer os argumentos Software Livre e ver se podemos nos
> > beneficiar dessa massa de usuários para trazer a tona os aspectos éticos e
> > filosóficos. Esse sempre foi o papel do FISL, por exemplo, trazer todos
> > para um centro de convivência onde se buscava a demonstração clara de que
> > se pode transformar o mundo não apenas usando programas de código aberto,
> > mas entendendo os princípios éticos e o alcance transformador de sua
> > ideologia.
> > 
> > Quando preconizei a morte do Movimento Software Livre, me referi à busca
> > pelo convencimento através de argumentos baseados na ética, na ideologia,
> > no movimento transformador social e político. Se o crescimento da massa de
> > complacentes continuar nesse ritmo, muito em breve não haverá mais efeito
> > transformador algum, pois as ferramentas em nuvem que não desrespeitam as
> > liberdades do usuário serão absolutas e dentro delas estará um seleto
> > grupo de produtores de Softwares abertos que não tem a menor percepção da
> > importância de seu código ser aberto. O movimento Software Livre e seus
> > argumentos serão suplantados pelo pragmatismo mercadológico.
> > 
> > Acredito que agora ficou fácil de perceber que é exatamente esse
> > pragmatismo e complacência que o OSI implementa o maior responsável pela
> > redução do entendimento ético e ideológico do Software Livre. Portanto eu
> > acredito que está na hora de fazer uma desassociação do OSI. Em minha
> > opinião o objeto final do método OSI pode até ser o mesmo que o do
> > Software Livre, mas estou convencido de que seus meios terminarão por
> > extingui-lo. Nós, os defensores do Software Livre, se não sairmos das
> > redes sociais devassas, se não deixarmos de usar Ubuntu, se não tornarmos
> > inaceitável o uso de Gmail, Skype, iPhone, se não migrarmos para redes
> > sociais livres e federadas, se nos não formos capazes de gerar um
> > antagonismo a tudo isso como fizemos com o uso do Windows, seremos
> > extintos.
> > 
> > Não serei hipócrita, pois nunca fui. Incongruências e incoerências todos
> > temos. O problema é que esse pragmatismo OSI, que leva à complacência, que
> > confunde, tem se tornado o padrão do movimento. A relação de incoerência é
> > de 95% incoerente para 5% coerente. Temos que fazer algo para trazer essa
> > relação para patamares mais próximos de nossos interesses como Movimento
> > Software Livre. Há alguns anos poucos se arriscariam a fazer uma palestra
> > usando Windows ou Mac. Hoje é quase maioria. Há alguma coisa fora da
> > ordem.
> > 
> > Por isso, para que não haja nenhuma dúvida: muito menos OSI para que possa
> > haver muito mais Software Livre.
> > 
> > Saudações Livres
> > 
> > Links
> > 
> > 1 -
> > http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-brasil/2014-May/002006.html
> > 2 - https://www.youtube.com/watch?v=MKDn9quw5sc
> > 
> > 
> > 
> > De: "ricardo ruiz" <doutorsocratesoreidofutebol em gmail.com>
> > Para: "PSL-Brasil" <psl-brasil em listas.softwarelivre.org>
> > Enviadas: Quarta-feira, 21 de maio de 2014 22:28:19
> > Assunto: Re: [PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo
> > 
> > ótima discussão. estamos  todos no caminho certo. (uma mensagem curta, para
> > variar)
> > 
> > Em 21/05/2014 21:57, "Frederico Goncalves Guimaraes"
> > <fgguimaraes em teia.bio.br> escreveu:
> > Olá Tobias e demais,
> > 
> > Consta no registro TS21203 do Livro da Grande Teia que
> > Tobias, em 21/05/14 escreveu o seguinte:
> > 
> > > > Um dos equívocos que tenho percebido desde que essa discussão
> > > > começou é a tentativa de encontrar "culpados" pelos problemas que
> > > > estamos enfrentando - além de, na minha opinião, um exagero na
> > > > dimensão desse problema. Apontar dedos não ajuda em nada o
> > > > movimento de software livre. Ao contrário, só faz reforçar a ideia
> > > > de que somos exclusivistas e chatos.
> > > >
> > >
> > > Desculpe-me se a impressão que passei foi essa! O objetivo não era
> > > apontar dedos, mas sim rever onde esse fato-não-tão-bom ocorreu para
> > > poder refletir sobre e corrigi-lo.
> > 
> > Sou eu quem peço desculpas se minha mensagem ficou parecendo como um
> > recado específico pra você. Não era essa a intenção. Era uma
> > constatação do conjunto das mensagens e não só da sua.
> > 
> > Um abraço e até mais.
> > 
> > 
> > Fred
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Anahuac de Paula Gil

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