[PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo

anahuac em anahuac.eu anahuac em anahuac.eu
Quinta Maio 22 22:35:51 BRT 2014


Olá Bruno,

Que bom que as mensagens vão ficando ais curtas e objetivas :-)

Eu já disse antes, e vou repetir: eu não falo em nome da FSF. Não tenho autoridade para tal. Falo exclusivamente por mim.
Eu não coaduno com a visão pragmática e tolerante da OSI. 

Quando você afirma que "foi assim que a comunidade software livre brasileira cresceu e se sustentou" acho que você comete um erro grave de avaliação. Quem cresceu e se sustenta é o Open Source Initiative, não a comunidade Software Livre. E exatamente isso o que estou propondo que revertamos. 

Quando dois métodos, um mais ortodoxo e outro mais pragmático, se encontram com o um mundo estabelecido por relações comerciais mais pragmáticas, quem evolui é o método mais pragmático. Isso é simples de ser entendido.

O problema são as consequências. E a mais visível delas é que o Movimento Software Livre, pela influência dos métodos da OSI, está ficando tão pragmático e tolerante que está se contradizendo, ou seja, está usando ferramentas e ideias que ela mesmo combate e deve combater. É por isso que temos que dar alguns passos para trás e corrigir a rota, sob o risco eminente de deixarmos de existir como Movimento Software Livre, sendo apenas executores dos métodos OSI.

E me parece evidente que o primeiro passo é nos afastarmos das técnicas OSI e nos reaproximarmos das técnicas SL de ativismo. É resgatar nossa identidade como Movimento Software Livre e não como executores das técnicas OSI, disfarçados de Software Livre. São diferentes e devemos presar por essa diferença.

E veja, não acho que precisemos ser extremistas, sugiro ao Movimento Software Livre, duas ações bem simples:

1 - Estimular de forma ampla e coordenada o entendimento de que OSI e SL são movimentos diferentes;
2 - Estimular de forma ampla e coordenada o não uso de softwares proprietários(skype e etc), sabotadores do software livre(Ubuntu e etc) e das redes sociais "devassas" (face e etc).

Esse seria um excelente começo :-)

Saudações Livres!



----- Mensagem original -----
> De: "Bruno F. Souza" <bruno em javaman.com.br>
> Para: "PSL-Brasil" <psl-brasil em listas.softwarelivre.org>
> Enviadas: Quinta-feira, 22 de maio de 2014 22:10:48
> Assunto: Re: [PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo
> 
> 
> On 22/05/2014, at 20:19, anahuac em anahuac.eu wrote:
> 
> > 
> > Olá Bruno,
> > 
> > Não importa o quanto você repita: acredito muito mais no nosso
> > posicionamento nacional da comunidade software livre de utilizar tecnicas
> > "open source" para discutir a etica "free software".
> > 
> > Eu não acredito nisso, simplesmente refuto essa afirmação.
> 
> Nao duvido que voce refute... E ate _concordo_ que refute! Mas a questao eh
> que eh assim que a comunidade software livre brasileira cresceu e se
> sustentou. Eh exatamente por isso que voce considera que o movimento
> "morreu"! Temos uma visao diferente, e eu acho que o movimento nao morreu, e
> que cada vez mais software livre faz parte da vida das pessoas, _apesar_ de
> muitos nao entenderem o porque.
> 
> > Eu acho sim que é péssimo usar as ferramentas do Google, não importando o
> > quanto ela financie desenvolvedores de software de código aberto. Da mesma
> > forma que refuto colaboração ou investimentos desse tipo provindos da
> > Microsoft. As duas tem o mesmo objetivo, apenas usam abordagens diferentes
> > para alcançá-lo.
> 
> Eh obvio que "usar as ferramentas do Google" (que nao sao software livre!) eh
> pessimo! Achei que estavamos falando de software livre aqui! Mas, se voce
> desqualifica todo o software _livre_ desenvolvido e liberado pelo Google (e
> tambem pela Microsoft, Oracle e tantos outros) e voce desconsidera a
> importancia desse software _livre_, e dos desenvolvedores que estao
> desenvolvendo, eu realmente me questiono se estamos discutindo a mesma
> coisa... Porque nao estamos mais falando de ser contra software
> proprietario, mas de ser contra o software livre desenvolvido por essas
> empresas? Essa sua visao nao eh compartilhada nem pela FSF...
> 
> > Dentro da minha visão de Software Livre, o financiamento de uma empresa no
> > código aberto não a transforma em amiga da ética. Essa ética não está a
> > venda.
> 
> Empresas nao sao amigas. Nem da etica. Nem de voce ou de mim. Nem mesmo de
> seus usuarios ou funcionarios. Empresas sao entidades juridicas, que nao
> fazem amizade. Agora, os desenvolvedores de software, junto com seus
> gerentes e diretores, que sao pagos por essas empresas para desenvolver
> software livre, sao parte integrantes desse nosso movimento, e muitos deles
> tem visoes pragmaticas (em geral os gerentes e diretores) e outros tantos
> tem objetivos eticos (em geral os desenvolvedores).
> 
> Se voce nao vai valorizar os desenvolvedores que sao capazes de fazer
> software livre mesmo dentro de empresas, eu acho que vai sobrar pouca gente
> nessa sua visao de comunidade...
> 
> []s,
> Bruno.
> 
> > 
> > Saudações Livres!
> > 
> > 
> > 
> > ----- Mensagem original -----
> >> De: "Bruno F. Souza" <bruno em javaman.com.br>
> >> Para: "PSL-Brasil" <psl-brasil em listas.softwarelivre.org>
> >> Enviadas: Quinta-feira, 22 de maio de 2014 16:59:19
> >> Assunto: Re: [PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo
> >> 
> >> 
> >> Ola Anahuac,
> >> 
> >> Fico feliz que essa troca de emails serviu para chegarmos a uma discussao
> >> muito mais interessante. Voce esta mostrando que eh perfeitamente possivel
> >> discordar de um posicionamento sem recorrer a criticas distorcidas. Voce
> >> tem
> >> toda a razao em defender o software livre como discurso etico e social,
> >> acho
> >> importante o debate.
> >> 
> >> O movimento software livre no Brasil -- ate pelo envolvimento de pessoas
> >> como
> >> voce -- nunca abandonou o discurso etico, e eh por isso que eu acredito
> >> muito mais no nosso posicionamento nacional da comunidade software livre
> >> --
> >> de utilizar tecnicas "open source" para discutir a etica "free software"
> >> --
> >> do que a polarizacao de "free software" vs "open source" que vemos em
> >> outros
> >> lugares.
> >> 
> >> Talvez nao tenha ficado claro dessa discussao, mas a OSI nao despreza os
> >> pontos eticos do software livre. Vou reforcar isso, ja que parece que se
> >> perde no meio de tao longos emails: a OSI foi fundada por desenvolvedores
> >> e
> >> sempre acreditou na etica do desenvolvimento de software livre. Mas a OSI
> >> reconhece que a mensagem da etica eh de dificil aceitacao para a grande
> >> maioria dos envolvidos no desenvolvimento de software -- em especial
> >> empresas e nao-desenvolvedores -- e portanto, a OSI foca em uma mensagem
> >> mais pragmatica, focada nos beneficios. A discussao da etica sera sempre a
> >> melhor estrategia para falar com os desenvolvedores, mas em geral, nao sao
> >> eles que precisam ser convencidos.
> >> 
> >> O fato que muito mais gente participa do movimento, e que a discussao eh
> >> global, apenas permite com que a sua mensagem etica possa atingir um
> >> publico
> >> mais preparado para aceitar e ouvir o que voce tem a dizer. Antes, quando
> >> se
> >> falava de software livre, a discussao era ingloria... Como voce mesmo
> >> colocou, era necessario mostrar que era possivel ganhar dinheiro, que era
> >> possivel se fazer software de qualidade, que outros modelos que nao fossem
> >> o
> >> modelo proprietario eram viaveis. Hoje, apenas os totalmente alienados nao
> >> veem que software livre eh a base para tudo o que fazemos no mundo do
> >> software. Voce pode ate achar incongruente que alguem use software livre e
> >> proprietario ao mesmo tempo, mas o fato dele perceber que ambos estao em
> >> patamares semelhantes (tecnico, financeiro, de adocao, etc), torna o
> >> convencimento etico muito mais viavel. Enquanto o software livre era
> >> marginal, a vantagem etica nao era suficiente para convencer a maioria.
> >> Com
> >> o software livre se tornando parte do dia a dia de todos, a etica eh uma
> >> vantagem nossa que o software proprietario nao tem como copiar, e que eh
> >> portanto muito mais facil de ser apresentada.
> >> 
> >> A comunidade de software livre nao deixou de ser etica. O que eu acredito
> >> eh
> >> que mais gente faz parte dela, e nem todos estao educados e entendem a
> >> discussao etica. Acredito que eh sim importante reposicionar e fortalecer
> >> essa discussao, mas acredito que isso eh mais facil hoje do que foi ontem.
> >> 
> >> Por outro lado, muita dessa discussao ignora os principais motores da
> >> comunidade software livre, que sao os desenvolvedores. Por exemplo, voce
> >> considera incoerente que alguem venha palestrar no FISL usando MacOS ou
> >> Windows, mas se esse palestrante vem mostrar o software livre que ele
> >> desenvolveu em uma dessas plataformas, ele deveria ser aplaudido e nao
> >> escorracado. Nao importa qual plataforma o desenvolvedor utilize, se o
> >> foco
> >> dele eh desenvolver software livre, ele esta sim sendo etico e esta sim do
> >> lado da comunidade software livre. Citando Richard Stallman:
> >> 
> >> 	"If your program is free software, it is basically ethical [...]
> >> 	Whether any given program in source form is free software depends solely
> >> 	on the meaning of its license."
> >> 	
> >> 	"Se seu programa eh software livre, ele é basicamente ético [...]
> >> 	Um programa ser software livre depende basicamente do significado da
> >> 	sua licenca."
> >> 	https://www.gnu.org/philosophy/java-trap.html
> >> 
> >> Portanto, sejamos coerentes, e vamos sempre aplaudir o desenvolvedor que
> >> esta
> >> fazendo a sua parte, e esta sendo etico. Inclusive, se voce quer resgatar
> >> a
> >> discussao etica, seria importante que eventos como o FISL tivessem um
> >> maior
> >> foco no desenvolvimento de software. Essa eh uma discussao que eu sempre
> >> tive durante a montagem do conteudo do evento, que eh aumentar o foco no
> >> desenvolvimento. As discussoes politicas, sociais e eticas sao muito bem
> >> vindas, mas de nada adiantam se nao atraem o desenvolvedor de software,
> >> que
> >> eh basicamente a base dessa comunidade.
> >> 
> >> Quando o foco eh a geracao de software livre, existem dois grupos que sao
> >> capazes de colocar uma licenca livre em um software. O desenvolvedor, se
> >> ele
> >> desenvolve por conta propria. Ou seu chefe (a "empresa"), se ele trabalha
> >> para alguem. Convencer o desenvolvedor com o valor etico eh valido.
> >> Convencer a empresa com o valor pratico tambem eh valido. Ambos resultam
> >> em
> >> mais software livre. Qualquer outro esforco, que promova o uso de software
> >> livre pelos usuarios, que mostre aos usuarios as vantagens da liberdade,
> >> etc, pode ser importante para promover o software livre. Mas sem ter quem
> >> o
> >> crie, eh uma discussao esvaziada.
> >> 
> >> Isso eh importante tambem para os esforcos com o governo. Investe-se muito
> >> em
> >> convencer o uso. Discute-se leis que promovam ou exigam a adocao. E todo o
> >> software desenvolvido para o governo, sendo pago pelo governo? Porque
> >> esses
> >> desenvolvedores nao tem o direito, ou talvez devessem ter o dever, de
> >> desenvolver software livre, que possa beneficiar a todos? Isso vale para
> >> as
> >> empresas tambem. Voce pode considerar que ao se render ao Google foi
> >> pessimo
> >> para voce como usuario. Mas se nosso foco eh o desenvolvedor, considerar a
> >> quantidade de pessoas que sao pagas pelo Google para desenvolver software
> >> livre, isso eh valido? Richard Stallman disse uma vez:
> >> 
> >> 	 “I think Sun has contributed more than any other company to the
> >> 	free software community in the form of software. It shows leadership.
> >> 	It's an example I hope others will follow.”
> >> 	"Eu acho que a Sun contribuiu mais do que qualquer outra empresa
> >> 	aa comunidade software livre na forma de software. Mostra lideranca.
> >> 	Eh um exemplo que eu espero outros vao seguir."
> >> 	http://www.fsf.org/news/fsf-welcomes-gpl-java.html
> >> 
> >> Eu tenho certeza que voce vai encontrar dezenas de razoes para nao usar os
> >> produtos e servicos que a Sun disponibilizava na epoca. Ou agora, a
> >> Oracle.
> >> Mas isso nao muda o fato que a Sun (e agora a Oracle) pagam centenas de
> >> desenvolvedores para desenvolver software livre. Se queremos um mundo
> >> realmente livre, onde os usuarios terao a liberdade de fazer o que
> >> quiserem
> >> com seu software, nos precisamos de mais desenvolvedores nessa situacao. E
> >> convencer as empresas eh uma forma de acelerar isso!
> >> 
> >> Eu tenho certeza que a comunidade software livre brasileira pode
> >> incentivar a
> >> criacao. Nao acredito que seja necessario ostracizar quem parece
> >> incoerente.
> >> Precisamos eh que 100% de todo o software distribuido, seja distribuido
> >> sob
> >> uma licenca livre. Pra isso, podemos ate incentivar o uso, mas o foco tem
> >> que ser na criacao.
> >> 
> >> []s,
> >> Bruno.
> >> 
> >> 
> >> 
> >> 
> >> On 22/05/2014, at 00:20, anahuac em anahuac.eu wrote:
> >> 
> >>> 
> >>> Olá Pessoal,
> >>> 
> >>> Demorei um pouco para elaborar da forma mais elegante que pude o que
> >>> penso
> >>> sobre o assunto.
> >>> Terminou saindo mais um artigo,longo, sobre o tema.
> >>> 
> >>> Aos que quiserem imergir, boa sorte :-)
> >>> 
> >>> Olá Bruno,
> >>> 
> >>> O artigo não é uma resposta direcionada a você, mas como você me citou
> >>> nominalmente tomei a liberdade de fazer o mesmo.
> >>> Sugiro que você dê uma lida nos demais artigos que escrevi sobre o tema,
> >>> começando por um chamado "A microsoftização da Canonical".
> >>> Estão todos disponíveis no meu site: http://www.anahuac.eu
> >>> 
> >>> E só para finalizar, eu não sou membro da FSF, nem da FSFLA, nem da ASL,
> >>> nem da organização do FISL... na verdade eu sou apenas dedicado ativista
> >>> do Movimento Software Livre.
> >>> 
> >>> 
> >>> -----------------
> >>> 
> >>> Pragmatismo Open Source ameaça o Software Livre
> >>> 
> >>> 
> >>> É sério, tenho me sentido dentro de um episódio do fantástico Além da
> >>> Imaginação, serie de TV dos anos 80 que colocava seus personagens em
> >>> situações surreais. Num desses episódios um cara acorda e ninguém entende
> >>> o que ele fala. As palavras estão trocadas, ou seja, tem significados
> >>> diferentes. Na cena final, resignado, ele ouve o filhinho lhe ensinando
> >>> que o ultimo dia da semana se chamava "dinossauro". Tenho me sentido
> >>> assim. Liberdade e coerência perderam completamente o significado. Entrei
> >>> numa máquina do tempo ou perdi o bonde?
> >>> 
> >>> Em que momento Software Livre virou sinônimo de Open Source? Quando foi
> >>> que
> >>> GNU virou sinônimo de Linux? Quando foi que usar Facebook e Gmail passou
> >>> a
> >>> ser aceitável?
> >>> 
> >>> Como o significado mudou, o que eu escrevo não tem o efeito esperado. Os
> >>> leitores reagem como se eu os estivesse ofendendo, acusando, diminuindo.
> >>> Não dá para refutar a Lei da Gravidade nesta dimensão, é algo que se
> >>> aplica a tudo e a todos. Não é uma ofensa pessoal lembrar as pessoas que
> >>> ela existe e é imutável. Você tem todo o direito de se ofender, de
> >>> berrar,
> >>> de apontar minhas incoerências, me taxar de improdutivo, estrela, chato,
> >>> feio e bobo. Mas adivinha? A Gravidade não vai deixar de existir por
> >>> causa
> >>> disso. Então vou repetir, de novo: Software Livre e Open Source
> >>> Initiative
> >>> não são a mesma coisa. Mas não tome a minha palavra apenas.
> >>> 
> >>> Na lista do PSL-BR, Bruno Souza, diretor da OSI, me deu uma explicação
> >>> prolixa[1], dizendo que SL e OSI são de fato movimentos diferentes -
> >>> obrigado Bruno -  mas que lutam pela mesma coisa: liberdade do código
> >>> para
> >>> proteger o usuário. Segundo a explicação o que diferencia o movimentos da
> >>> iniciativa é a abordagem. A OSI teria um "aproach" mais pragmático,
> >>> direcionado aos tomadores de decisão, empresários e pessoas que não
> >>> entendem argumentos como liberdade e ética como vantagens competitivas em
> >>> uma economia de mercado, então a OSI usa argumentos como qualidade de
> >>> software, desempenho, custo e outros que soam mais atraentes para esse
> >>> público. Segundo meu entendimento da lógica OSI a ideia é levar o código
> >>> livre a maior quantidade possível de pessoas através do convencimento dos
> >>> usuários e tomadores de decisão, inclusive sendo complacente com o uso de
> >>> Software Proprietários e serviços privativos se isso for necessário. O
> >>> objetivo é, no fim, popularizar o uso de softwares que tenham códigos
> >>> disponíveis.
> >>> 
> >>> Enquanto isso no SL a preocupação é com os princípios éticos,
> >>> ideológicos,
> >>> sociais e políticos do uso de Software Livre e por conseguinte, dos
> >>> malefícios do uso de Softwares Proprietários e serviços privativos. A
> >>> abordagem é focada nos benefícios sociais, no combate às mazelas
> >>> políticas
> >>> e de controle impostas pelo código fechado. O "aproach" é mais na linha
> >>> do
> >>> "por um Mundo melhor", algo meio hippie, meio ecologista, algo mais
> >>> lúdico. Alguns, inclusive, definem essa abordagem de utópica. Como o
> >>> próprio Stallman diz que o Software Livre é "um movimento social e
> >>> político pela liberdade dos usuários de programas"[2]. Não se trata de
> >>> fazer o programa ser mais vendável ou aceitável, é sobre convencimento
> >>> ético e filosófico através do entendimento dos benefícios do uso de
> >>> Softwares Livres. Dureza! Mas é isso.
> >>> 
> >>> Então temos duas formas de propagar uma ideia. Uma focada nos benefícios
> >>> éticos e o outro nos benefícios comerciais. Eu não vou fazer juízo de
> >>> valor. Resumindo é isso.
> >>> 
> >>> Compreendidas as diferenças elementares agora cabe avaliar a evolução do
> >>> movimento e da iniciativa e ver como estamos hoje. Esta é a minha visão e
> >>> pode não ser fidedigna e, talvez, nem mesmo realista. No decorrer da
> >>> última década a abordagem da OSI foi extremamente bem sucedida, pois o
> >>> convencimento pelos argumentos OSI massificaram o uso de softwares com
> >>> código aberto para pessoas que nem sabem o que é isso. O Android é um
> >>> excelente exemplo disso, por exemplo. Entretanto o companheiro de luta, o
> >>> SL vem falhando fragorosamente. Trata-se de uma  relação inversamente
> >>> proporcional: quanto mais usuários de softwares de códigos abertos, menos
> >>> usuários nas fileiras do Software Livre. Porque será?
> >>> 
> >>> Permitam-me ir um pouco mais fundo na análise. Quando o movimento SL
> >>> nasceu
> >>> no Brasil, ele era eminentemente SL. Foi a convicção ética, social e
> >>> política de que o Software Livre era bom para a sociedade que motivou a
> >>> maioria dos ativistas. Foi baseado nessas premissas que se fundou o
> >>> CIPSGA, o Projeto Software Livre Brasil , a ASL, o FISL e tantos outros
> >>> exemplos. A prova disso são as infindáveis palestras sobre como ganhar
> >>> dinheiro com Software Livre em quase todos os eventos. Fomos uma legião
> >>> de
> >>> ativistas que eram constantemente chamados de radicais pelas empresas de
> >>> Software Proprietário e seus aliados. Essa foi a tônica até que o Google
> >>> mudou a forma de lidar com o Software. A licença GPL define lealmente o
> >>> que é Software Livre e ficava fácil distinguir. Com os serviços em nuvem
> >>> a
> >>> faixa cinza do que era ou não aceitável ficou muito maior. Era possível
> >>> usar os serviços do Google, como Gmail, sem desrespeitar a GPL nem nenhum
> >>> princípio explícito da FSF. Esse argumento foi usado massivamente por
> >>> praticamente todos os ativistas.A GPL3 não emplacou.
> >>> 
> >>> Me lembro bem do primeiro FISL em que o Google apareceu nos crachás do
> >>> evento. Minha primeira reação foi pedir uma caneta Pilot e riscar o nome
> >>> dela. Lembro das caras de indignação de todos, afinal o Google era uma
> >>> empresa "amiga" que estimula e contribui com o Software Livre e a prova
> >>> estava ali, no patrocínio do FISL. Gastei muitas horas tentando explicar
> >>> às pessoas o porque elas estavam erradas e como o Google se aproveitou
> >>> das
> >>> brechas da GPL2 e usando todos os argumentos comerciais tinha convencido
> >>> a
> >>> todos. Foi muito triste. Mas, vejam vocês: três anos depois eu mesmo me
> >>> convenci de que não havia problema e criei minha conta no Gmail. E vivi
> >>> feliz na "Matrix" por dois anos. Foram os argumentos de popularização, de
> >>> massificação, de otimização e toda essa terminologia mercantilista
> >>> associada à verdadeira funcionalidade de suas ferramentas que tinham me
> >>> convencido. Porque não fui cativado pelo Windows, mas sim pelo Google?
> >>> Agora éramos uma legião de ativistas de Software Livre que tínhamos
> >>> sucumbido ao argumento OSI de atingir as massas através do pragmatismo
> >>> mercantilista, enfurnados como felizes usuários de uma ferramenta
> >>> proprietária e todos seus encantos.
> >>> 
> >>> O salto das ferramentas do Google para o Facebook, Skype, OS X, iPhones e
> >>> outras é mais da mesma explicação acima. Trata-se da evolução lenta e
> >>> gradual da complacência dos argumentos do "aproach" OSI de militância que
> >>> permitiu atingir milhares de pessoas, mas usando as ferramentas e meios
> >>> complacentes que o SL não aceita: uso do Facebook, catalisando as
> >>> relações
> >>> com a Apple que usa BSD, justificando a inserção de códigos proprietários
> >>> no Kernel Linux, achando que a inserção de spyware no Ubuntu é algo
> >>> irrelevante, e muito mais. E com esses resultados palpáveis para mostrar
> >>> que sua forma de atingir o mesmo objetivo do Software Livre era certa,
> >>> grupos de usuários inteiros, eventos inteiros e muitos radicais foram
> >>> convencidos a também serem complacentes. Assim, de complacência em
> >>> complacência, os ativistas que outrora se posicionavam pela forma SL de
> >>> atingir o objetivo, migraram para a forma OSI de atingir o objetivo.
> >>> 
> >>> Essa migração natural é fruto da complacência pragmática do OSI. Fui
> >>> vítima
> >>> dela. Como disse num artigo anterior, é difícil trocar os confortos da
> >>> Matrix pelo creme sintético à bordo da Nabucodonosor. As tentações são
> >>> muitas, sejam comerciais, de alcance efetivo da militância. Quem pode
> >>> desprezar o argumento de que de atingem, literalmente, milhões de pessoas
> >>> usando o Facebook? Quem pode desprezar as pressões sociais de nosso
> >>> modelo
> >>> econômico lhe empurrando todo santo dia para o consumismo e portanto para
> >>> o "ganhar dinheiro" é mais importante? Quem pode suportar todos os
> >>> inconvenientes de não estar "na moda", "na onda", "com o melhor design"?
> >>> Quem consegue suportara tudo isso mesmo vendo que seus companheiros de
> >>> ativismo também estão nessa onda? Quase impossível. Sem nenhum medo de
> >>> errar, só posso citar o Stallman. E é exatamente por isso que ele foi
> >>> transformado em um "mal necessário". Percebam a inversão da situação. Um
> >>> dia o argumento era de que a convivência com o Software Proprietário
> >>> seria
> >>> "um mal necessário" para poder atingir nosso objetivo. Hoje, em quase
> >>> todas as mensagens mais elaboradas vejo algo do tipo "os radicais são
> >>> necessários". O Stallman pela sua inabilidade natural de relacionamento
> >>> interpessoal, tem sido agredido de todas as formas possíveis, exatamente
> >>> porque ele não se deixa levar pela complacência.
> >>> 
> >>> Juntam-se então a fome com a vontade de comer: o pragmatismo técnico
> >>> mercadológico dos argumentos OSI cai como uma luva na insaciável busca
> >>> das
> >>> corporações e governos de eliminar custos e aumentar produtividade sem
> >>> nenhum questionamento ideológico. Empresas modernas e antenadas percebem
> >>> a
> >>> oportunidade e faturam, se apropriando da inteligência coletiva, do
> >>> esforço de milhares para criar seus monopólios, suas redes sociais, seus
> >>> dispositivos interconectados, sempre com o mesmo objetivo: ganhar para
> >>> eles. Aos "bobinhos" do Software Livre organizam gincanas como o Google
> >>> Summer of Code. Arregimentam os melhores do mercado do código aberto,
> >>> agora para trabalhar internamente em suas super estruturas. Não é mera
> >>> coincidência, no Brasil, que esses melhores eram também os líderes de
> >>> diversas comunidades, grupos e eventos de Software Livre. É assim que o
> >>> GNU se transforma em Linux. É o argumento OSI quem elimina o GNU.
> >>> 
> >>> Então, se SL e OSI são aliados para alcançar o mesmo objetivo, é chegada
> >>> a
> >>> hora de fortalecer os argumentos Software Livre e ver se podemos nos
> >>> beneficiar dessa massa de usuários para trazer a tona os aspectos éticos
> >>> e
> >>> filosóficos. Esse sempre foi o papel do FISL, por exemplo, trazer todos
> >>> para um centro de convivência onde se buscava a demonstração clara de que
> >>> se pode transformar o mundo não apenas usando programas de código aberto,
> >>> mas entendendo os princípios éticos e o alcance transformador de sua
> >>> ideologia.
> >>> 
> >>> Quando preconizei a morte do Movimento Software Livre, me referi à busca
> >>> pelo convencimento através de argumentos baseados na ética, na ideologia,
> >>> no movimento transformador social e político. Se o crescimento da massa
> >>> de
> >>> complacentes continuar nesse ritmo, muito em breve não haverá mais efeito
> >>> transformador algum, pois as ferramentas em nuvem que não desrespeitam as
> >>> liberdades do usuário serão absolutas e dentro delas estará um seleto
> >>> grupo de produtores de Softwares abertos que não tem a menor percepção da
> >>> importância de seu código ser aberto. O movimento Software Livre e seus
> >>> argumentos serão suplantados pelo pragmatismo mercadológico.
> >>> 
> >>> Acredito que agora ficou fácil de perceber que é exatamente esse
> >>> pragmatismo e complacência que o OSI implementa o maior responsável pela
> >>> redução do entendimento ético e ideológico do Software Livre. Portanto eu
> >>> acredito que está na hora de fazer uma desassociação do OSI. Em minha
> >>> opinião o objeto final do método OSI pode até ser o mesmo que o do
> >>> Software Livre, mas estou convencido de que seus meios terminarão por
> >>> extingui-lo. Nós, os defensores do Software Livre, se não sairmos das
> >>> redes sociais devassas, se não deixarmos de usar Ubuntu, se não tornarmos
> >>> inaceitável o uso de Gmail, Skype, iPhone, se não migrarmos para redes
> >>> sociais livres e federadas, se nos não formos capazes de gerar um
> >>> antagonismo a tudo isso como fizemos com o uso do Windows, seremos
> >>> extintos.
> >>> 
> >>> Não serei hipócrita, pois nunca fui. Incongruências e incoerências todos
> >>> temos. O problema é que esse pragmatismo OSI, que leva à complacência,
> >>> que
> >>> confunde, tem se tornado o padrão do movimento. A relação de incoerência
> >>> é
> >>> de 95% incoerente para 5% coerente. Temos que fazer algo para trazer essa
> >>> relação para patamares mais próximos de nossos interesses como Movimento
> >>> Software Livre. Há alguns anos poucos se arriscariam a fazer uma palestra
> >>> usando Windows ou Mac. Hoje é quase maioria. Há alguma coisa fora da
> >>> ordem.
> >>> 
> >>> Por isso, para que não haja nenhuma dúvida: muito menos OSI para que
> >>> possa
> >>> haver muito mais Software Livre.
> >>> 
> >>> Saudações Livres
> >>> 
> >>> Links
> >>> 
> >>> 1 -
> >>> http://listas.softwarelivre.org/pipermail/psl-brasil/2014-May/002006.html
> >>> 2 - https://www.youtube.com/watch?v=MKDn9quw5sc
> >>> 
> >>> 
> >>> 
> >>> De: "ricardo ruiz" <doutorsocratesoreidofutebol em gmail.com>
> >>> Para: "PSL-Brasil" <psl-brasil em listas.softwarelivre.org>
> >>> Enviadas: Quarta-feira, 21 de maio de 2014 22:28:19
> >>> Assunto: Re: [PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo
> >>> 
> >>> ótima discussão. estamos  todos no caminho certo. (uma mensagem curta,
> >>> para
> >>> variar)
> >>> 
> >>> Em 21/05/2014 21:57, "Frederico Goncalves Guimaraes"
> >>> <fgguimaraes em teia.bio.br> escreveu:
> >>> Olá Tobias e demais,
> >>> 
> >>> Consta no registro TS21203 do Livro da Grande Teia que
> >>> Tobias, em 21/05/14 escreveu o seguinte:
> >>> 
> >>>>> Um dos equívocos que tenho percebido desde que essa discussão
> >>>>> começou é a tentativa de encontrar "culpados" pelos problemas que
> >>>>> estamos enfrentando - além de, na minha opinião, um exagero na
> >>>>> dimensão desse problema. Apontar dedos não ajuda em nada o
> >>>>> movimento de software livre. Ao contrário, só faz reforçar a ideia
> >>>>> de que somos exclusivistas e chatos.
> >>>>> 
> >>>> 
> >>>> Desculpe-me se a impressão que passei foi essa! O objetivo não era
> >>>> apontar dedos, mas sim rever onde esse fato-não-tão-bom ocorreu para
> >>>> poder refletir sobre e corrigi-lo.
> >>> 
> >>> Sou eu quem peço desculpas se minha mensagem ficou parecendo como um
> >>> recado específico pra você. Não era essa a intenção. Era uma
> >>> constatação do conjunto das mensagens e não só da sua.
> >>> 
> >>> Um abraço e até mais.
> >>> 
> >>> 
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