[PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo

Bruno F. Souza bruno em javaman.com.br
Segunda Maio 26 15:23:19 BRT 2014


Akira, Anahuac,

Quero agradecer, porque essa discussao esta de otimo nivel, e acredito que esta ajudando a todos a solidificar os conhecimentos sobre Software Livre em geral.

> A minha movimentação é para que busquemos um equilíbrio. A balança pendeu para o pragmatismo de uma forma quase irreversível.

Em especial, eu acredito que o objetivo final que o Anahuac vem propondo, que acho que ele resumiu nessa frase acima eh um objetivo valido e importante para a discussao de software livre no Brasil. Mas, acho que para chegar nisso precisamos respeitar a diversidade existente hoje na comunidade.

Por isso, quero fazer alguns comentarios pontuais, onde eu acho que a discussao esta distorcendo alguns pontos de vista:

> Estava me referindo aos códigos licenciados sob licenças OSI.
> E talvez aqui caiba lembrar que há sempre aquela "pulha" de que as licenças OSI são mais livres do que as licenças SL, pois elas permitem serem apropriadas por quem desejar.

As licencas aprovadas pela OSI sao virtualmente identicas aas licencas aprovadas pela FSF, portanto nao sao nem mais nem menos "livres". A segunda, terceira e quinta licenca livre mais usada no mundo permitem essa chamada "apropriacao", mas nao deixam de ser livres.

	http://www.blackducksoftware.com/resources/data/top-20-open-source-licenses

> 
>> Em quais atitudes a OSI se aproximou do SP? Me ajude a enxergar isso, me cite exemplos.
> 
> Reveja a primeira mensagem do Bruno, ele deixa isso bem claro.

Desculpe Anahac, mas em nenhum momento eu defendi ou promovi ou me "aproximei" de software proprietario nessa discussao. Temos uma diferenca de opiniao bem razoavel, mas pelo menos do meu lado, acredito que estamos sempre falando de software livre aqui...

> A aproximação é fruto da abordagem pragmática e tolerante, mais uma vez. Mas já que você quer um exemplo: considerar correto o uso de ferramentas do Google (listas, docs, emails).

A OSI exclusivamente defende o uso de software livre. A OSI nao diz nada a respeito do uso de ferramentas ou software proprietario: o foco da organizacao eh defender o uso e a criacao de software livre, promovendo as suas vantagens.

Em especial, nao existe nenhuma infraestrutura da OSI que seja mantida em software proprietario: nossas listas sao gerenciadas internamente utilizando Mailman, nossos documentos compartilhados utilizam o Etherpad, nosso issue tracker eh Redmine, nossa Wiki eh a XWiki, etc.

> A OSI diz que está tudo bem usar as ferramentas do Google para produzir Software Livre.

A OSI nao defende e nao promove as ferramentas do Google. A OSI tambem nao diz nada sobre estar tudo bem em usar ferramentas do Google ou de quem quer que seja. A OSI defende e promove a criacao de software sob licencas livres. A frase do Linus Torvalds que citei no outro email talvez seja um resumo: "open source is the only right way to do software". Em nenhum momento a OSI promove o desenvolvimento de software proprietario.

> A FSF diz que não está tudo bem usar as ferramentas do Google, nem mesmo para produzir Software Livre.

A FSF nao diz isso... A FSF, exatamente porque defende o lado etico, discute detalhadamente usos eticos e nao eticos dessas ferramentas. Esse eh um ponto fundamental quando queremos ser consistentes. A FSF por exemplo eh bem consistente quando avalia algo tao generico quanto "as ferramentas Google":

	Services are fundamentally different from programs, and the ethical issues that 
	services raise are fundamentally different from the issues that programs raise. 
	To avoid confusion, we avoid describing a service as “free” or “proprietary.”
	http://www.gnu.org/philosophy/who-does-that-server-really-serve.html

Recomendo uma lida no artigo que cito acima, do Richard Stallman, que discute SaaS/SaaSS/Google/Facebook/Twitter entre outros:

	http://www.gnu.org/philosophy/who-does-that-server-really-serve.html

Alguns pontos do artigo que tem a ver com toda essa nossa discussao:

	In its essence, social networking is a form of communication and 
	publication, not SaaSS. 

	Some sites offer multiple services, and if one is not SaaSS, another 
	may be SaaSS. For instance, the main service of Facebook is social 
	networking, and that is not SaaSS; however, it supports third-party applications, 
	some of which are SaaSS. 

	Flickr's main service is distributing photos, which is not SaaSS [...]
	Likewise, using Instagram to post a photo is not SaaSS [...]
	[...] Neither is [SaaSS] publishing your own materials via a blog site or 
	a microblogging service such as Twitter or StatusNet.
	
	Google Docs [...] offers an API for uploading and downloading documents [...]. 
	A free software editor can do so through this API. This usage scenario 
	is not SaaSS, because it uses Google Docs as a mere repository. 

Tambem recomendo a leitura do artigo (tambem do RMS):

	http://www.gnu.org/philosophy/network-services-arent-free-or-nonfree.html

Alguns trechos, relevantes a essa nossa conversa, e ao futuro da nossa comunidade:

	Let's suppose a service is implemented using software [...] If the operator 
	developed them and uses them without distributing copies, they are free 
	in a trivial sense since every user (there's only one) has the four freedoms.

	If some of them are nonfree, that usually doesn't directly affect users of the 
	service. We don't condemn the server operator for being at the mercy of nonfree 
	software, and we certainly don't boycott her for this. [...] Given an opportunity,
	we try to explain how it curtails her freedom, hoping she will switch to free software.

	Conversely, if the service operator runs GNU/Linux or other free software, 
	that's not a virtue that affects you, but rather a benefit for her. We don't praise or 
	thank her for this; rather we felicitate her for making the wise choice. If she releases 
	some of this free software, thus contributing to the advance of the community, that's 
	the point at which we have a reason to thank her. 

Peco desculpas pela falta de traducao, o tempo esta curto... Vou apenas parafrasear, e quem preferir, leia os artigo! Basicamente, RMS defende que servico eh diferente de software, e tem questoes diferentes em relacao aa liberdade. Ele tambem diferencia servicos computacionais, que ele considera prejudiciais (SaaSS) de servicos de comunicacao/publicar informacao (que nao seriam uteis rodando no seu computador) e que nao sao prejudiciais. Redes sociais se encaixam nesse ultimo caso. RMS diz explicitamente que o desenvolvedor do servico de comunicacao que desenvolve o proprio software (por exemplo, o Facebook, Twitter) o software eh "livre" de uma forma trivial, ja que seu um unico usuario (quem desenvolveu) tem todas as liberdades. Por outro lado, mesmo que o servico use software proprietario, isso nao eh um problema, porque nao afeta a liberdade dos seus usuarios. Tudo isso tem varias nuancias, ja que se o servico depender de JavaScript proprietario por exemplo, afeta os usuarios. Por ultimo, RMS diz que, ao colaborar com a comunidade liberando "algum" desse software, esse eh o momento em que temos uma razao para agradecer. (Obviamente, esse meu resumo nao faz justica aos artigos, mas ajuda na nossa discussao atual).

Esses artigos mostram por um lado o quao complicado eh nosso mundo da tecnologia hoje, e por outro, a impressionante consistencia da FSF. Tentar posicionar o movimento de software livre como um movimento que eh contrario em "usar as ferramentas do Google" ou do Facebook ou sei la quem mais, pura e simplesmente, nao bate com a visao da propria FSF, que, ao buscar as atitudes eticas das anti-eticas, diferencia muito bem quando um servico prejudica ou nao a liberdade do usuario.

E mais ainda... Nao reconhecer que existe sim uma enorme gama de nuancias em relacao ao software livre, e que eh normal a confusao e o desconhecimento dessas nuancias, mesmo por aqueles da "velha guarda", so vai prejudicar o movimento. Eh preciso reconhecer que muita coisa precisa ser debatida e aprofundada, e que generalizacoes ou tentar desqualificar uma grande parte dessa comunidade eh prejudicial a nos mesmos.

> 
>> Faço parte do MSL e sempre acho que precisamos melhorar os argumentos na linha ética/ideológica do SL, mas não significa que devemos deixar de usar os argumentos técnicos, concorda?
>> 
> Concordo!
> A minha movimentação é para que busquemos um equilíbrio. A balança pendeu para o pragmatismo de uma forma quase irreversível.

Pelo jeito, todos nos concordamos com esse ponto. E eu continuo defendendo que essa tem sempre sido a marca da comunidade software livre brasileira: nos sempre falamos de liberdade ("livre") e sempre utilizamos as taticas de mostrar as vantagens e argumentos tecnicos. Etica do free software. Taticas do open source. Eu nao acho que isso seja "pragmatismo" ou "tolerancia" e nem acho que isso denigre o esforco da enorme e diversa comunidade que construiu esse movimento todos esses anos.

Pode ser que falte um trabalho de educacao e de conscientizacao mais forte? Mas, isso sempre vai "faltar": nunca vai ser demais fazer.

[]s,
Bruno.
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Bruno Peres Ferreira de Souza                         Brazil's JavaMan
http://www.javaman.com.br                      bruno at javaman.com.br
        if I fail, if I succeed, at least I live as I believe





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