[PSL-Brasil] Ninguém deveria usar Facebook, diz Glenn Greenwald

Alexandre Oliva lxoliva em fsfla.org
Quinta Novembro 6 21:04:52 BRST 2014


On Nov  6, 2014, Sergio Durigan Junior <sergiodj em sergiodj.net> wrote:

> On Wednesday, November 05 2014, anahuac em anahuac.eu wrote:
>> ”Mas eu já o encorajei a usar o Twitter, para que ele tivesse uma
>> plataforma onde pudesse falar”, continuou Greenwald.

> O Twitter, aquela mesma ferramenta que faz censura de posts?

Não é à toa que The Intercept, do mesmo Greenwald, *também* publica no
Twister, a rede de µblog P2P construída com tecnologia bittorrent e
bitcoin.  Essa é incensurável.

> Eu ainda não entendo como as pessoas (e a FSF!) acham que "tudo bem usar
> o Twitter"...

Não sei se a FSF acha que “tudo bem”, mas certamente seu uso não
contraria a bastante bem delimitada missão da FSF, que tem a ver com
usuários terem controle sobre suas *próprias* computações, com Software
ser Livre ou não.  Embora isso toque em questões de censura e
intimidade, nem tudo que envolva censura ou intimidade automaticamente
tem a ver com a missão da FSF.

É discutível se ela deveria expandir seu escopo, se é que ela poderia
fazer isso (por exemplo, se essa modificação seria legalmente permitida
por lei, se os contratos de atribuição de copyright relativo ao projeto
GNU permitiriam essa expansão, se as doações que recebeu ao longo dos
anos poderiam ser redirecionadas para outras questões mais amplas) e se
seria útil fazer isso (por exemplo, se atuais apoiadores continuariam
apoiando ou não, se outros que não são passariam a ser).

Há argumentos para manter o escopo mais focado, concentrando esforço
numa questão específica.  Há outros para abrir o leque apesar da
possibilidade de dispersar esforços.  No fim das contas, a FSF é quem
decide (ou decidiu, se não puder mudar) a questão em que vai trabalhar.

Nós, como pessoas, diferente de uma fundação, não temos obrigação legal
de escolhermos uma missão e nos atermos a ela.  Podemos escolher várias
questões, podemos ter questões mais amplas.  Poderíamos ficar
pessoalmente incomodados por não apoiar causas progressistas como a
vegana, a ambiental, a da desigualdade econômica, a da mão de obra
escrava, da fome, da miséria, e por aí vai.  Podemos lutar em cada uma
delas, ainda que correndo o risco de não ser eficazes em nenhuma ao
tentar abraçar mais do que conseguimos.  Também podemos escolher uma
causa ou outra para lutar, e lamentar não conseguir lutar por outras
ainda que as apoie.  No fim das contas, também cabe a cada um de nós
decidir.

E certo que a questão dos serviços web tem uma proximidade à questão do
Software Livre muito maior que, por exemplo, o veganismo, ou mesmo o
vegetarianismo, a ponto de a FSF tomar posição em casos que têm efeitos
iguais aos do software privativo, especificamente quando afetam
computações do próprio usuário, mesmo que desempenhadas através de
serviços, os chamados SaaSS (serviço como substituto de software).

Ao mesmo tempo, questões que não são computações próprias, mas
computações colaborativas, tais como serviços de intermediação de
comunicação, sejam email, microblog, ou repositórios colaborativos e
públicos de software, parecem não encontrar equivalência no escopo de
atuação da FSF.  Então, é razoável, embora desapontador, a FSF não tomar
posição, mesmo que outras questões que acabaram nos levando ao interesse
e ao ativismo pelo Software Livre estejam presentes e tornem nossa
posição quanto a esses serviços óbvia.

Nessa hora, é preciso que nós compreendamos que a FSF está operando
dentro do que ela escolheu operar quando de sua fundação, e que haveria
sérios riscos em tentar mudar esse escopo.  Essa não é, ou pelo menos
não parece ser, uma questão de Software Livre, de acordo com o que foi
delineado lá atrás.

Não me parece que seja o caso de atacar a FSF por não ter uma bola de
cristal funcional, ou por cumprir compromissos implicitamente assumidos
anteriormente ao aceitar doações a ela oferecidas para levar adiante
aquela missão e nenhuma outra.

Parece-me, sim, que seja o caso de nós, ativistas preocupados com
questões mais amplas, que nos levaram ao ativismo pelo Software Livre,
ou mesmo que conhecemos e apoiamos em decorrência de nosso envolvimento
com o Software Livre, aceitarmos que não podemos presumir apoio da FSF
nas questões mais amplas quando elas não se enquadrem no escopo de
atuação da FSF, e levemos adiante essa bandeira mais ampla, com ou sem
organizações juridicamente estabelecidas para esse fim; aceitar que
vamos encontrar, dentro do movimento Software Livre, pessoas que não
concordam com essas posições, mas que apoiam a FSF e o movimento
Software Livre justamente porque tem um escopo mais delimitado com o
qual elas concordam.

-- 
Alexandre Oliva, freedom fighter    http://FSFLA.org/~lxoliva/
You must be the change you wish to see in the world. -- Gandhi
Be Free! -- http://FSFLA.org/   FSF Latin America board member
Free Software Evangelist|Red Hat Brasil GNU Toolchain Engineer


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