[PSL-Brasil] Por um FLISOL Exemplar
João Fernando
joaofernando em espiritolivre.org
Terça Março 24 01:20:49 BRT 2015
Oliva, vc fez uma versão em espanhol do seu texto?
Em terça-feira, 24 de março de 2015, Alexandre Oliva <lxoliva em fsfla.org>
escreveu:
> A premissa fundamental do Movimento Software Livre é a de que software
> privativo de liberdade é um poder injusto que subjuga seus usuários.
> Nossa estratégia para resolver esse problema social é informar,
> conscientizar e inspirar usuários para resistir a esse subjugo,
> rejeitando software privativo de liberdade, para que essas linhas de
> negócios deixem de ser atraentes e deixem de fazer vítimas.
>
> Para formar resistência suficiente, precisamos difundir os valores,
> princípios, objetivos e estratégias do Movimento Software Livre.
> Objetivos e estratégias podem até ser ensinados e aprendidos com
> palavras: manifestos, artigos, palestras e debates. Mas para ensinar
> e aprender valores e princípios, exemplos falam muitíssimo mais alto
> que palavras. Com que exemplos o FLISOL da sua cidade vai ensinar os
> valores e princípios do Software Livre?
>
> Um visitante que tenha levado seu computador a uma sede do Festival
> Latinoamericano de Instalação de Software Livre, para experimentar
> Software Livre, pode assistir ou não às palestras, mas seguramente
> espera sair do evento com Software Livre instalado no computador. Não
> necessariamente GNU/Linux-libre, pois há outros sistemas operacionais
> Livres, nem mesmo um sistema operacional, pois o que normalmente
> importa aos usuários são os aplicativos. Cumpre a nós, do Movimento
> Software Livre, utilizar essa oportunidade para, além de instalar
> Software Livre na máquina, preparar o usuário para nos ajudar na
> resistência ao software privativo de liberdade, compartilhando as
> ideias do movimento. Essencial para que isso funcione é se comportar
> de modo compatível, pois palavras ensinam valores menos que o exemplo.
>
> As mais populares distribuições de GNU/Linux não estão alinhadas com o
> Movimento Software Livre, pois oferecem e instalam software privativo
> de liberdade. O problema mais comum são controladores privativos
> (drivers ou firmware) para componentes de hardware com especificações
> secretas. Os fabricantes desses componentes pretendem mantê-los
> incompatíveis com a liberdade do usuário, dificultando o
> desenvolvimento de Software Livre que cumpra função equivalente.
>
> Informar usuários sobre essa incompatibilidade é essencial, para que
> melhor compreendam a raiz e origem do problema e possam levar isso em
> conta quando forem comprar seu próximo computador. Certamente
> instalar uma distribuição que busca esconder esses problemas dos
> usuários não ajuda a informá-los, por isso mesmo parabenizo a
> iniciativa da petição para que o FLISOL deixe de instalar Ubuntu, bem
> como a adoção de recomendação nesse sentido pela coordenação nacional
> brasileira e por várias sedes. Começar por reduzir a maior
> transgressão é um ótimo primeiro passo! Mas não chega a resolver o
> problema de coerência do FLISOL com o Movimento Software Livre.
>
> Para um novo usuário, a instalação de uma distribuição 100% Livre pode
> muito bem funcionar 100%, mas do contrário abrirá caminho para
> explicar o problema do hardware incompatível com a liberdade. É óbvio
> que a notícia da incompatibilidade será desapontadora para muitos
> visitantes, e muitos instaladores podem ficar de coração apertado se
> não "ajudarem" o visitante a instalar blobs e drivers privativos de
> liberdade exigidos pelo hardware, ou plugins "necessários" para que
> distribuidores de obras autorais de entretenimento tomem o controle do
> computador do visitante. São dilemas sem solução favorável: é preciso
> decidir entre comunicar que algum software privativo de liberdade é
> aceitável e até desejável, ou arriscar afastar um usuário ao mostrar a
> importância da resistência firme ao software privativo de liberdade.
>
> Se uma oferta para instalar aplicativos Livres no sistema operacional
> privativo já instalado não empolgar, orientação sobre as
> possibilidades de substituir os componentes incompatíveis pode ajudar
> um pouco e dar um bom exemplo da importância da resistência. Por
> outro lado, oferecer software privativo de liberdade para fazer o
> componente funcionar pode até parecer ajudar mais, mas transmite
> exatamente a mensagem contrária à necessária para formar a resistência
> ao software privativo de liberdade. Mesmo uma visível hesitação pode
> parecer descaso ou hipocrisia se a ação contrariar os princípios.
>
> Afinal, se instalar software privativo em quantidades cada vez maiores
> fosse a solução do problema de componentes de hardware incompatíveis
> com a liberdade, por que parar no firmware, ou nos drivers? Num
> computador com Boot Restrito, daqueles que impedem a iniciação de
> sistemas operacionais alternativos, o software privativo necessário
> para fazer um GNU/Linux funcionar é o Windows, inteiramente privativo,
> e um ambiente de execução de máquinas virtuais, igualmente privativo.
>
> Mas ninguém (além da própria Microsoft, suponho) pensaria em instalar
> Windows num festival de instalação de Software Livre. Por que, então,
> instalam-se tantos outros programas privativos no FLISOL? Não são
> eticamente melhores que o Windows! O receio de que, sem eles, o
> usuário volte ao software privativo é medo d'"A volta dos que não
> foram": usando GNU/Linux com blobs, o usuário jamais terá deixado a
> escravidão do software privativo de liberdade, no máximo terá mudado
> de feitor. Na liberdade, como na segurança, é o elo mais fraco da
> corrente que se rompe e põe tudo a perder.
>
> Uma conversa franca e honesta com o usuário fará muito mais pelo
> Movimento Software Livre que instalar uma distribuição com componentes
> privativos, ou mesmo que instalar uma distribuição 100% Livre que não
> funcione bem no computador incompatível. Afinal, o visitante
> seguramente poderá encontrar na Internet receitas para instalar o
> software privativo de liberdade que fará o componente funcionar.
> Porém, graças às ideias da conversa e ao bom exemplo observado,
> entenderá que sua decisão é pessoal, que ninguém deve tomá-la em seu
> lugar, e que trata-se apenas de um sacrifício temporário de sua
> própria liberdade, até que uma solução esteja ao seu alcance. Bons
> exemplos, conselhos e ideias ajudarão a manter o usuário no caminho
> para a liberdade, mesmo que seja longo e árduo.
>
> Mas se, ao invés de receber um exemplo firme e fundamentado de
> resistência ao software privativo de liberdade, o visitante observar
> seu mentor e seus pares oferecendo e preferindo instalar software
> privativo de liberdade, tenderá a se tornar mais um multiplicador da
> contracultura do Software Livre. Tampouco hesitará em instalar
> distribuições com software privativo de liberdade, em decidir por
> outros quais liberdades sacrificar e em se opor às sugestões e aos
> pedidos de que futuros FLISOLis se comportem de forma compatível com o
> Movimento Software Livre. Com seu exemplo e atitude, propagará sua
> resistência às nossas ideias, dificultando ainda mais a formação da
> resistência ao software privativo de liberdade.
>
> Muito menos importante que o software instalado é a mensagem
> transmitida pelo FLISOL. Porém, o software ofertado e instalado,
> enquanto exemplos, são parte importantíssima da mensagem, pois quando
> palavras e exemplos são contraditórios no ensino de valores, com maior
> frequência prevalecem os exemplos. Então, com que exemplos você vai
> ensinar, no FLISOL da sua cidade, os valores e princípios do Movimento
> Software Livre? Com que exemplos vai reforçar a necessária e urgente
> resistência ao software privativo de liberdade? Como vai motivar o
> FLISOL a adotar, como mais uma de suas regras internacionais, os bons
> exemplos de resistência ao software privativo de liberdade, para que
> deixe de minar nosso movimento e nossa resistência e se torne um
> Festival Latinoamericano de Instalação de Software Livre Mesmo, um
> FLISOL exemplar?
>
>
> Copyright 2015 Alexandre Oliva
>
> Cópia literal, distribuição e publicação da íntegra deste artigo são
> permitidas em qualquer meio, em todo o mundo, desde que sejam
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>
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