[PSL-Brasil] Investir em empresa de software livre

Alexandre Oliva lxoliva em fsfla.org
Terça Outubro 27 02:52:50 BRST 2015


On Oct 25, 2015, cristiano furtado <cristianofurtadoba em gmail.com> wrote:

> A red hat não é uma empresa de SL. Ela mantém uma distribuição Linux com
> licença paga não?

IMHO há vários enganos e um acerto nesse trecho da sua mensagem.


Licença ser paga ou não tem nada que ver com Software Livre.  O Livre do
Software Livre é de Liberdade, não de preço.  Significa ser livre
inclusive para cobrar o quanto quiser pelo software e pelos serviços
relacionados, inclusive os de empacotamento e distribuição.

A licença de uso da distro GNU/Linux da Red Hat para empresas, que eu
saiba, não é paga.  No caso específico da assinatura da distro GNU/Linux
da Red Hat, paga-se pelo serviço de suporte.  Prova: mesmo após
encerrado o contrato (de serviços), pode-se continuar executando,
modificando e distribuindo todo o software, à exceção dos minúsculos
pacotes de imagens (não software) contendo logotipos e marcas
registradas, discriminados no contrato.

Apesar do nome, a distribuição da Red Hat é de GNU com Linux.  Como já
dizia o pai da criança, Linus Torvalds, antes da influência lhe subir à
cabeça, o Linux é um kernel que sozinho não serve para nada.  Para
torná-lo útil, precisa do software copyleft do GNU.  Fecha aspas
(citando de memória, mas vai ver o anúncio do lançamento da primeira
versão do Linux que tá tudo isso lá)


Red Hat não se apresenta como empresa de Software Livre, mas de Open
Source, que está longe de ser a mesma coisa.  Embora no que diga
respeito ao software em si a diferença seja minúscula, as motivações, os
posicionamentos e as decisões importantes são norteados pelos valores do
Open Source, fundamentalmente diferentes dos valores do Software Livre.

Cito como exemplos importantes (i) a tolerância ao software privativo,
algo inimaginável para o Movimento Software Livre, mas prática comum no
Open Source que trata o software privativo como algo inferior ou
inconveniente; (ii) a progressiva adoção e promoção de modelos de
serviços como substitutos de software (SaaSS), perfeitamente compatível
com o desenvolvimento Open Source, mas que resulta em algo ainda pior
que o software privativo para o usuário.


Concordo que Red Hat não seja uma empresa de Software Livre.  Há
empresas comercialmente sustentáveis que jamais oferecem a seus clientes
software que os prive das liberdades essenciais relativas ao software,
mas a Red Hat infelizmente não é uma delas, ainda que os desvios da
prática compatível com os princípios do Software Livre no que diz
respeito ao tratamento com clientes da Red Hat sejam relativamente
raros, até onde sei.

A decisão de jamais abusar dos clientes (oferecendo software em
condições incompatíveis com as liberdades essenciais) e de jamais ajudar
terceiros a abusar deles (repassando software dos terceiros acompanhado
desse mesmo tipo de condições) parece ser algo inviável no mundo das
corporações enquanto sociedades anônimas.  Todas as entidades comerciais
que conheço que levam princípios a sério o fazem por decisão de seus
sócios fundadores, e mantêm distância segura da tentação de abusar dos
clientes, mesmo quando isso afaste potenciais investidores.


Nesse sentido, a ideia de investir em empresas de Software Livre,
condicionando o investimento à observância dos princípios do movimento,
parece-me uma ideia muitíssimo interessante.


{}s,

-- 
Alexandre Oliva, freedom fighter    http://FSFLA.org/~lxoliva/
You must be the change you wish to see in the world. -- Gandhi
Be Free! -- http://FSFLA.org/   FSF Latin America board member
Free Software Evangelist|Red Hat Brasil GNU Toolchain Engineer


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