[PSL-Brasil] GNUs para Reinaldo Bispo

Bruno F. Souza bruno em javaman.com.br
Quarta Maio 21 15:08:26 BRT 2014


Ola Pessoal,

So alguns comentarios pontuais:

On 21/05/2014, at 11:23, Frederico Goncalves Guimaraes <fgguimaraes em teia.bio.br> wrote:

> Sei que o
> termo código aberto (do original "open source") pode remeter a uma série
> de licenças (inclusive algumas questionáveis), mas nesse texto estarei
> focando exclusivamente na consideradas livres (segundo a FSF).

Quero chamar atencao para esse ponto. As licencas "open source", aprovadas pela OSI e as licencas "free software", aprovadas pela FSF, sao, para todos os efeitos praticos, exatamente as mesmas licencas:

	http://en.wikipedia.org/wiki/Comparison_of_free_and_open-source_software_licenses#Approvals

As "diferencas" sao todas licencas antigas:
	3 licencas antigas e ja removidas (http://opensource.org/licenses/do-not-use)
	1 licenca (tambem antiga, de uma empresa que foi comprada e nao eh mais independente) onde o 
	ponto de divergencia eh a exigencia de distribuicao de codigo na execucao (deploy) do programa 
	(ou seja, eh uma questao compreensivel, mas muito longe de ser "codigo proprietario"!).

Ou seja, as "diferencas" sao muito mais historicas do que reais. Observe tambem que existe mais diferenca entre as licencas aprovadas pelo Debian e pela FSF do que diferencas existentes entre as licencas aprovadas pela OSI e pela FSF.

Acho isso significativo, porque quando se confunde "open source" ou "OSI" com a "liberdade de escolher software proprietario", eh uma total distorcao dos objetivos e da historia da OSI.

> Quer dizer então que devemos fazer uma defesa
> "permissiva" do software livre? Que temos que abrir mão de nossos ideais
> pra ideia florescer? Não! De forma alguma! Mas temos que adequar o
> nosso discurso para o público que nos escuta. Isso é básico para
> qualquer atividade educacional.

Exatamente, muito bem dito. A OSI nao foi criada como uma contradicao aa FSF, e sim, com o proposito de ajustar o discurso para defender os mesmos ideais e atingir um publico diferente do desenvolvedor. Taticas diferentes, mas com os mesmos objetivos.

> Deveríamos estar discutindo formas de avançar tanto na
> qualidade e quantidade de código aberto quanto em um melhor embasamento
> de nossas falas sobre o software livre.

Concordo. Tentar repetir no Brasil uma discussao e uma divergencia ao meu ver quase que artificial, eh uma perda de energia. Essa "divergencia" foi iniciada em um momento historico de organizacoes que deveriam se entender melhor, mas que nao foram capazes de fazer la atras por conta muito mais da animosidade entre seus fundadores do que por divergencias reais nos seus objetivos. 

No Brasil, os fundadores da comunidade de Software Livre, foram capazes de ver acima disso, e desde o seu primeiro momento, utilizaram o melhor dos dois mundos, ao adotar taticas e tecnicas de "open source" para falar da etica do "free software". Eh so ver que entre os fundadores dessa nossa comunidade, voce vai encontrar diversos nao-desenvolvedores, que acreditando profundamente na visao etica do movimento "free software", sairam apresentando para o pais (inclusive empresas e governo brasileiro) um discurso as vezes ate utilitarista de "reducao de custos", "seguranca", "soberania nacional" e outras "vantagens praticas" capitaneadas pelo movimento open source. 

Esse ao meu ver eh uma vantagem e amadurecimento da comunidade de Software Livre brasileira se comparada com outras comunidades. 

E essa maturidade trouxe frutos impressionantes. Como a maioria sabe, eu sou primeiro (desde 1995) um desenvolvedor Java. E muitos aqui vao lembrar que quando eu me juntei a esse movimento, no incio dos anos 2000, a comunidade Java enfrentava uma barreira gigante para se envolver com software livre em geral, e mais ainda com "free software" em particular (onde a FSF publicaria em 2004 o artigo "The Java Trap"). Ao mesmo tempo, no Brasil, Java era a tecnologia utilizada para capitanear e promover os primeiros projetos "software livre" do pais, e bastava andar nos corredores do FISL para ver que a maioria dos projetos que envolviam  desenvolvimento de software das empresas que defendiam o software livre eram aplicacoes Java rodando em Linux (em geral, em cima do JBoss). Nada surpreendente, dado que Java permitia o desenvolvimento multiplataforma, e antes de Java basicamente todo desenvolvimento era em cima de Windows, foi o uso de Java que ajudou as primeiras migracoes de Windows para Linux feitas no Brasil (em especial dentro do governo). E foi no meio dessa aparente contradicao que nos aqui no Brasil soubemos ver acima dessa discussao improdutiva de "Java nao eh software livre", para uma discussao muito mais importante de que "Java pode vir a ser software livre", e nos envolvemos na "briga", nos orgaos de padronizacao, em projetos e muito mais. Nao eh por acaso que a revista Dr. Dobbs publicou em 2008:

	Who ultimately forced Sun to open-source Java? [...]
	Answer: [...] According to Jonathan [Schwartz, Sun's CEO] himself, it was Brazil.

	Quem no final forcou a Sun a liberar Java como open source?
	Resposta: De acordo com o proprio Jonathan [Schwartz, Presidente da Sun], foi o Brasil.

	http://www.drdobbs.com/architecture-and-design/south-american-software-development/205600791

Resumindo: nos todos sabiamos que Java nao era livre. Poderiamos ter feito como boa parte do mundo "free software" fez naquela epoca e ostracizado Java e seus desenvolvedores. Ou poderiamos traze-los para a comunidade e comecar um trabalho de convencimento. Que foi que fizemos, com resultados impressionantes. Fez parte desse esforco de convencimento nomes importantes do movimento open source, como Danese Cooper, Simon Phipps, Geir Magnuson e muitos outros.

Esse eh um exemplo no qual fica claro de que eh possivel aceitar a realidade atual ("Java nao eh software livre mas eh muito usado no Brasil" ou "nem todo software eh livre nesse momento") e nem por isso isso significa abandonar nossos principios e objetivos maiores.

Por outro lado, muitos podem argumentar que sem termos alguem que batalha e defende o objetivo final, sempre lembrando dele a cada passo, eh muito facil se perder pelo caminho. E eh verdade. Eh possivel que se nao fosse a FSF combater o uso de Java, talvez todos nos aqui no Brasil estivessemos ate hoje aceitando "um unico item" dentro da pilha de software que nao fosse livre, ao inves de tentar resolver.

Dentro da minha historia pessoal pelo menos, esse vai ser sempre o exemplo que mostra como todo o conjunto eh importante. Eh importante ter alguem batendo o pe e insistindo em nao abrir mao de principios fundamentais (os chamados "radicais", que nao deveria ser um termo pejorativo, porque alguem que nao abre mao de principios eh "radical", mas, esta fazendo o certo!). Mas tbem eh importante ter aqueles que sao capazes de negociar e "falar a mesma lingua", de adaptar a mensagem, como forma de fazer o convencimento e ajudar a construir a ponte que torne possivel sair da situacao atual para a desejada. Aplicando ao caso em questao, FSF e OSI, sao duas forcas complementares.

Ambos os papeis sao fundamentais e sao reconhecidos, pelo menos aqui na nossa comunidade Software Livre.

[]s,
Bruno.
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Bruno Peres Ferreira de Souza                         Brazil's JavaMan
http://www.javaman.com.br                      bruno at javaman.com.br
        if I fail, if I succeed, at least I live as I believe





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