[PSL-Brasil] If it's not practical to redistribute free software, it's not free software in practice
Alexandre Oliva
lxoliva em fsfla.org
Quarta Novembro 25 02:31:46 BRST 2015
On Nov 21, 2015, fabianne balvedi <fabs em estudiolivre.org> wrote:
> facilitar o fork tampouco está na definição do que seja SL
Não é só isso. O problema era ainda pior, como você pode ver, se
quiser, nos artigos que acabo de citar em mensagem ao Patola, e noutras
citações a partir deles. Parte foi corrigida, mas parte continua
criando empecilhos que vão muito além do "não facilitar" e chegam ao
"tornar praticamente inviável", com "praticamente" não no sentido de
quase, mas de efetivamente. Um exemplo de que gosto é que respeitar a
liberdade de ir e vir não exige dar carona pra onde o sujeito quiser, é
só não colocar barreiras no caminho que visem dificultar o movimento.
É fácil de ver que, às vezes, respeitar a liberdade pode exigir algum
esforço mais que a mera inação. Tipo assim, se não entreguei o código
fonte junto com o binário e agora não tenho mais pra entregar nem se
quisesse, o software não é Livre. Deixar de entregar os fontes é
inação, mas é suficiente para constituir desrespeito à liberdade, se
houver recusa de entregá-los quando solicitados.
Da mesma forma, se não bastasse a exigência de recompilar os binários
não copyleft para ter permissão para distribuí-los, a exigência de
remover *todas* as marcas do Ubuntu de *todos* os pacotes onde eles
possam aparecer, na forma textual ou de logotipos, mesmo após
solicitação de esclarecimento se é isso mesmo, beira o "não deixo, não
deixo mesmo e se você tentar, sua vida será um inferno!"
Convenhamos, a defesa da marca não precisa ser feita desse jeito. Temos
exemplos disso na comunidade. Por que dificultar as coisas? Por que
fazer algo a outrem que geraria grande insatisfação caso feito a nós
mesmos? (imagine se o Debian fizesse a mesma exigência!)
> Ambas as partes não querem risco jurídico
Se fosse só isso, o problema já estaria resolvido. O suposto risco
jurídico é uma distração pra gerar confusão, porque a solução para esse
risco é bem conhecida.
> sobre isso dificultar ao EXTREMO, sério mesmo?
Sério mesmo. O Matt está longe de ser um sujeito incompetente na
técnica, seja a programação de baixo nível, seja na automatização de
tarefas mecânicas, seja no encontrar soluções geniais para problemas
genuinamente complicados. E ele queria basear um trabalho seu no
Ubuntu, e decidiu não fazer isso porque não dava pra fazer na prática e
o risco jurídico seria grande demais. E não é o único exemplo: no
artigo de julho, há referência nos comentários a outras empresas que
tomaram medidas ainda mais cuidadosas para se proteger do risco jurídico
que a Canonical cria, ao que tudo indica justamente para inviabilizar
distros derivadas. Imagine se o Debian fizesse isso com ela!
> uma vez que códigos bagunçados e não comentados também
> dificultam enormemente o fork e nunca vi alguém reclamar que
> eles eram gatos disfarçados.
Eu já vi Alan Cox reclamando do código do driver nv do X, a ponto de
dizer que não era Software Livre por causa justamente da falta de
comentários e da obscuridade do código. Talvez ele não tenha razão, mas
alguém já reclamou, sim ;-)
Eu mesmo vivo me deparando com longas sequências de números que são
introduzidas em cada nova versão do Linux, e que preciso tentar
adivinhar se são código objeto ou se são só longas sequências de
inicialização e configuração sem comentários, ou porque o driver foi
feito no escuro, sem documentação, ou porque foi feito com documentação
sob NDA.
Dificultam a adaptação, sim, mas não é muito diferente de se escrever o
programa numa linguagem que ninguém mais conhece. Falta informação,
sim, mas não chega a ser culpa do desenvolvedor que terceiros não a
tenham. Isso é mais óbvio no caso do driver feito no escuro, mas a
imposição do NDA não é uma escolha do desenvolvedor (aceitá-lo é).
Já se alguém que criou o dispositivo escreve o código com trechos
obscuros e sem documentação, e o divulga como se fosse Software Livre,
talvez houvesse razão para considerá-lo não-Livre, pois há uma certa
privação de código fonte aí. Mas, na prática, o código fonte não seria
diferente do caso anterior, então fica complicado argumentar que aquele
seja Livre e este não. Talvez a linha não esteja traçada no lugar
certo.
Da mesma forma, o uso de marcas em Software Livre normalmente não é um
problema, pois não chegam a impedir o gozo das liberdades mesmo que
precisem ser removidos, mas em alguns casos, pode chegar a fazê-lo. Meu
exemplo favorito é de um fonte de caracteres contendo logotipos.
Modificá-lo para remover os logotipos faz com que deixem de desempenhar
a função desejada; seria como um software privativo, em forma binária,
que só funciona se acompanhado de arquivo com o logo, e com exigência de
remoção do logo para redistribuição. Com essa modificação, ele deixa de
cumprir a função original.
Outro caso, especulado há muitos anos, seria alguém colocar tantas
marcas em tantos lugares obscuros de um programa Livre que, ao exigir a
remoção da marca para redistribuição ou adaptação, tornar-se-lo-ia
(perdão :-) privativo. Parece que a Canonical tomou isso como manual de
instruções, ou resolveu testar os limites, ou algo assim. Fato é que
está, sem motivo (porque a questão de defesa de marcas tem solução
conhecida), criando dificuldades e riscos jurídicos para quem ouse
querer fazer com o Ubuntu o que ela fez com o Debian. Não conheço linha
científica de ética em que essa assimetria seja considerada razoável.
> me parece meio óbvio que a estratégia do Mattew de trazer o assunto a
> público dessa forma, acusando deliberadamente a Canonical desse jeito,
> iria surtir algum efeito no sentido de faze-la finalmente facilitar o
> fork.
Você já tinha lido os artigos de julho que citei pro Patola? Pelo que
escreveu acima, parece que não tinha conhecimento ou lembrança do teor
deles. Quer refrasear?
--
Alexandre Oliva, freedom fighter http://FSFLA.org/~lxoliva/
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